quinta-feira, 27 de abril de 2017

Chico Buarque - Fado Tropical - (abertura "Grândola Vila Morena" de Zeca...



Poema completo de Ruy Guerra e Chico Buarque:

Oh, musa do meu fado 
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado 
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata 
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata 
Se perdeu e se encontrou

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano 
uma boa dose de lirismo
(além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas
 em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga Alecrins no canavial
Licores na moringa Um vinho tropical
E a linda mulata Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata Arrebato um beijo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa

Guitarras e sanfonas, 
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca 
Num suave azulejo
E o rio Amazonas 
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca deságua no Tejo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal


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