terça-feira, 21 de novembro de 2017

Sobre canalhas e maus-caracteres

Jorginho era um canalha mau caráter, com certeza. Além disto o cara jogava o fino da bola, não perdia um carteado e só andava com mulheres lindas. Passado o tempo descobri que a fama não condizia com a pessoa. Era só coisa de inveja mesmo. Trabalhador honesto, fez carreira no comércio varejista, hoje é casado, pacato e tranquilo.

Madalena era a feição do mau caratismo, esquisita, emburrada, complicada, mil defeitos, estranha e só andava sozinha porque não gostava de companhia nenhuma, pois se julgava superior, segundo se comentava nas mesas e rodadas de conversas fiadas. Um dia a encontrei numa destas viagens repentinas. Tinha nada disto. Um moça maravilhosa, tímida e reprimida. Rolou um clima, mas isto ficou só entre nós, sabe como é, tímida, discreta ...

Zé Bernardo era o cara. Tipo assim, todo mundo gostava dele. Atencioso, educado, prestativo, elegante, inteligente, sempre com um papo agradável. Namorava sério com Lourdinha, a moça mais linda do bairro, raramente bebia, não tinha vícios conhecidos. Enfim, Zé Bernardo era o tipo que todo mundo tinha orgulho de ser amigo. Um dia foi enquadrado na lei por transações internacionais de pessoas e de coisas que alucinam.

Meire tinha uma carinha de anjo, uma coisa angelical. Meu deusinho dos corpos perfeitos, que perfeição era aquela? Todo mundo amava Meire que amava todo mundo. De certa feita acabei me apaixonando e ela educadamente me fez entender que aquilo não iria dar certo e nos tornamos amigos. Um dia soube que estava envolvida em esquema ponzi internacional, junto com lideranças políticas e sociais e ela era quem liderava e coordenava em várias partes por aí.

Martins Ribeiro era um tremendo cara de pau. Andava feito malandro, falava feito malandro, gingava feito malandro, vestia feito malandro.  Martins Ribeiro tinha uma arte que ascendeu num determinando momento, foi ser artista plástico, fez fama e fortuna honestamente, sempre preservando aquele jeito matreiro.

Flavinha Coxas, o sobrenome era em função das pernas, uma coisa do outro mundo. Tinha ar, cara, jeito, estilo e olhar de garota de programa. Todo mundo falava - aquilo ali é mulher da vida. Flavinha no fundo d'alma se abalava com aquilo, pois a pobreza não lhe permitia roupas e poses encaixadas na sociedade. Flavinha foi à luta, estudou, graduou, pós-graduou, fez tese, defendeu sua vida e hoje salva vidas. 

Bento Thascarowisk era um beato da igreja. Ministro da Eucaristia, secretário da paróquia, zelador das contas da comunidade, palestrante de encontros da fé, de preparação de casamentos e de batizados. Sério, sempre discreto. Não havia ninguém que não gostasse e respeitasse Bento Thascarowisk. Um dia a lei o encontrou chefiando uma quadrilha local, braço de uma rede internacional de pedofilia.

Fulaninha não era nem melhor nem pior do que ninguém. Nunca roubou, nunca fez maldades, nunca prejudicou o próximo, nem promoveu desconforto entre seus conhecidos, nem teve fama disto ou daquilo. Só entrou aqui para mostrar que a vida tem pessoas lindas também, apaixonantes, sem rótulos e sem contrastes. 

É isto aí!

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