quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A amiga, o noivo, as cartas e o destino.

Aline tinha treze anos e já sabia de coisas que a mãe, professora, jamais suspeitara que existissem. Na escola era a mais querida, a mais amada, a mais procurada, a mais inteligente e a mais invejada, claro, por que as amigas não dão trégua às estrelas. A melhor companheira de memoriais eventos sociais, culturais e aventuras diversas era Clarinha.

Clarinha era o oposto perante a classe e educandário. A mãe era taróloga e a moça quase uma muda, introvertida, roupa comportada, aluna mediana, mas quando entravam em sintonia pelos labirintos da juventude, a mocinha transformava-se numa irreconhecível Clara, a reluzente, e Aline, por incrível que pareça, se retraia. Se completavam como amigas para sempre.

Aline conheceu Heitor, menino tímido, do tipo gordo e bonito. Sossegou o facho de fogueteira estudantil ao descobrir-se apaixonada e reciprocamente correspondida. Clarinha não gostava de ninguém. Afastaram-se, cada uma seguiu sua trilha e seu destino.

Dez anos se passaram. Clarinha tinha medo de não dar certo com Heitor e agora está aflita para chegar na Capela para encontrar sua cara metade, o amor de sua vida, sua felicidade suprema, seu sorriso apaixonado - Fernandinho, um rapaz esforçado e talentoso com futuro promissor na carreira advocatícia, feito o pai.

Ao estacionar o veículo é comunicada que o noivo não está; desapareceu e todos estão aflitos em ambas famílias e amigos em comum. No apartamento vazio e agora imenso, montado e planejado durante meses, um único bilhete sobre a mesa - fui ser feliz.

O telefone toca - era Heitor. Não esperou nem ao menos uma segunda frase - mandou-o ao inferno. Imagine, um tipo gordo daquele me ligar nesta hora de um vazio imenso. Heitor, vá à merda!

Pegou as duas passagens do pacote para as Ilhas Gregas, e lembrou de Aline - a melhor amiga para sempre. Rumou para a casa da inseparável companheira, e para sua surpresa e desespero, o noivo fugitivo estava nos braços da fidelíssima e juramentada companheira de juventude.

Dez anos se passaram e nem Heitor nem nenhum outro nunca mais ligou; Fernandinho assumiu sua porção mulher e Clarinha abriu uma Tenda de Astrologia&Tarot. Aline não se lembrava do trauma do abandono, mas carregava o peso de ter negado duas vezes a possibilidade ser feliz  Passou então a frequentar a Tenda da  Clarinha para ver se descobria um caminho...

É isto aí!

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