quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Quero ser amada

- Eu te amo, Carminha.

- Não, não me ama, Armandinho.

- Claro que sim, sinto que posso morrer por este amor.

- A morte, Armandinho, faz parte da vida, mas o modus operandi, o processo de  morrer é individual, e independe das escolhas que fazemos.

- Não, Carminha, nunca fale assim comigo. Eu morro de amor por você!

- O que deseja que eu fale? Que te amo? Não, não te amo.

- Mas estamos juntos...

- Sim, estamos juntos, mas isto não faz de mim uma mulher obrigada a amá-lo.

- Lembra quando nos vimos pela primeira vez?

- Sim, claro.

- Então, Carminha? Aquilo não foi a fagulha do amor?

- Vocês homens misturam tudo - desejo, tesão, paixão e amor para vocês são as mesmas coisas.

- Mas estão juntas e misturadas.

- E nem por isto são homólogas. São transportes diferentes, cada um destes sentimentos nos levam a uma experiência distinta, sempre saindo da mesma plataforma, mas nos entregando em destinos muito distantes uns dos outros.

- Eu não entendo isto, Carminha, não entendo você.

- Não estou aqui para ser decifrada, Armandinho, quero ser amada, possuída e desejada, uma coisa de cada vez, cada qual de um jeito, e todas elas, seja quais forem, sedutoras.

- Nossa. Eu procuro fazer tudo certo para não te irritar...

- Irritar? Você quer saber o que me irrita, Armandinho? Você é todo certinho. Nunca deixa pelos da barba na pia;  não surfa entre canais de TV quando estou na sala; sempre troca o rolo de papel higiênico, o sabonete e o shampoo quando acabam; sempre abaixa a tampa do vaso; apaga as luzes acesas desnecessariamente; não espalha xícaras, latinhas , farelos e sujeiras no tapete, no sofá ou na cama; nunca deixou toalhas molhadas no chão ou jogadas pela casa; não acumula roupas sujas no guarda-roupa e mantém o carro limpo e abastecido. 

- Mas, Carminha, faço isto por amor... sincero e verdadeiro

- Por que você não faz alguma coisa que me irrite, Armandinho? Que eu odeie?

- Não, Carminha, jamais faria isto. Carminha, de onde tirou isto?

- Eu quero que você reclame quando eu demoro excessiva e propositadamente ao me arrumar para sairmos; quando deixo absorvente usado jogado no cantinho do banheiro; quando deixo as luzes acesas só para você apagar; quando deixo a cozinha imunda e falo que estou com dor de cabeça; quando estou excitadíssima e digo que não quero.

- Mas eu adoro saber que está se arrumando para mim, Carminha. E tudo o que faz é parte de sua personalidade. Não posso desejar que seja exatamente como desejo que seja. Puxa vida, não sei mais o que faço para ter você...

- Ai, Armandinho, sabia que adoro este seu olhar perdido, esta sua busca pela perfeição de fazer tudo bem feito só para mim? Eu quero continuar assim, sendo procurada, perdida e devassa. Agora vem querido, que a noite é curta, e preciso de você  para viver os meus sonhos desta noite, por que os de amanhã ainda não aconteceram...

 É isto aí!

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