domingo, 18 de janeiro de 2015

A moça do G+

Conheci Marina pelo G+, sei lá, foi um rompante de paixão. Eu a adicionei, ela me curtiu, passamos a diálogos eternos, até que depois de uns três meses passou um telefone, daí liguei e depois disto, nossas conversas eram intermináveis. Mandava uma foto mais sensual que a outra. Eu mandava aquelas fotos clássicas sem fortes emoções e ela devia ter uma empresa de produção, pelo teor das publicações. Até que um dia mandou as coordenadas para um encontro. Queria que nos encontrássemos. 

Sentei à mesa do bar e pedi uma cerveja. O lugar era imundo, mas o caso é que ela marcou comigo naquele endereço. A mocinha trouxe a garrafa num isopor enegrecido e pegajoso. A marca da bebida era desconhecida, o copo engordurado, tanto quanto o piso em ladrilho hidráulico. O balcão refrigerador devia ter uns sessenta anos, com um barulho que a princípio era ensurdecedor e com o tempo acostumei. Tinha um radinho estridente sintonizado numa rádio local, onde um locutor chato ficava mandando recados de um para o outro, prá lá de sinistro.

Liguei novamente o GPS do smartphone e conferi as coordenadas da localização para mais uma vez confirmar que estava correto. Chamei o número dela umas vinte vezes e nada. Um transeunte esquisito, de capuz, entrou rapidamente no estabelecimento, veio na minha direção e sussurrou ao meu ouvido algo que devia ser uma proposta de negócios. Agradeci e saiu tão rápido quanto entrou.

O dono do boteco, um português gordo de cara redonda, bigode farto e o indefectível lápis na orelha direita, além de um pano imundo sobre o ombro esquerdo e jaleco impregnado de manchas, ficava do balcão só gritando para a cozinha e para a mocinha do atendimento. De repente jogou um sapato em direção à mesa do canto, onde um casal se agarrava e gemia em frenesi. E com seu indisfarçável sotaque lusitano berrou - vá prá casa, Antônia, vai ajudar sua mãe, sua rapariga de uma figa.

Chamei a mocinha, que já achava engraçadinha, e pedi a terceira garrafa. Ela olhou para o português, que gritando aos cuspes bradou daquela forma que só os portugueses bradam - três garrafas não podes.

- Mas por que não posso? Eu tenho o dinheiro. 
- Não é por isto, é por que é regra aqui - não podes e pronto.

Paguei a conta e já na porta vi a garçonete, na saída lateral do bar, fazendo um sinal chamativo clássico com o indicador. Fui ao seu encontro, pegou minha mão e foi me puxando por um beco estreito e assustador. Enquanto caminhava, a achei sexy, sei lá, me seduziu por assim dizer. Apertei a sua mão e ela tirou a sua rapidamente, olhando-me com reprovação. Paramos em frente a uma porta de aço, onde digitou a senha num codificador de segurança. A porta abriu e ao entrar, ela voltou e trancou-a por fora, me deixando só.

Marina estava lá dentro, linda, e aquilo era uma fortaleza. O que vi, ouvi e o que ocorreu ali fui proibido de contar, sob pena de sansões capitais. Só posso dizer que foram três dias inesquecíveis. Na semana seguinte retornei para a lanchonete, pois queria fazer uma visita surpresa e romântica. O português, ao perceber minha presença, fez um leve sinal para alguém e imediatamente fui convidado por quatro elementos de enorme envergadura a deixar a área. Entendi o recado. 

Já dentro do carro, trêmulo e confuso, vi a uns quarenta metros a garçonete fazendo um leve aceno; parei, entrou e saímos para um local incerto e não sabido. Para minha surpresa, era ela a Marina do G+, que não se chamava Marina, mas isto é outra história.

É isto aí!
  

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