segunda-feira, 30 de março de 2015

Casamentos e casamentes

Estou sentado num imenso sofá, num local completamente desconhecido, limpo e harmonioso. Ao meu lado uma das mulheres mais lindas e sensuais que já vi em toda a minha vida. A vista, privilegiada, contempla uma cadeia de montanhas e o oceano ao fundo, num contraste elegante. Ela me olha de uma forma desconcertante que não sei retribuir.

A questão aqui envolvida é que não sei nada sobre mim, nada sobre este lugar e nada sobre a moça. Lembro de coisas incríveis como o Louvre, onde acho que estive mergulhado num profundo ensaio conceitual, e também vagam passagens rápidas aqui e ali. Mas não sei de nada.

A escultura humana ao meu lado dirige a palavra numa língua que desconheço. Sequer entendo o sotaque porque se estou pensando apenas desta forma, devo ser monoglota. Não estou bêbado, nem drogado, nem com reflexos alterados. Minha cabeça não dói, meu corpo não reclama de nada, mas não sei de mim.

Ela continua num tom romântico falando coisas ao meu ouvido. Levanta-se e aí posso notar o quanto é maravilhosa, uma formosura esculpida por mãos divinas. E só então, ao tentar levantar percebo que estou nu, pelado, sem roupa sem nada. O curioso é que ela está também sem a roupa de baile e a poucos metros daqui há uma festa, com orquestra e muita gente dançando e cantando, na mesma estranha língua da moça.

Sem ter como evitar, levanto e caminho pelo salão, e todos me cumprimentam, tapinhas nas costas, uns beijinhos rápidos das mulheres, alguns na boca, outros na bochecha e outros soltos no ar. Continuamos o trajeto até o que parece ser um parlatório. Sou levado a ele. Daqui de cima vejo todos me observando, aguardando uma fala.

Olho para meu corpo nu, olho para as pessoas em requinte de gala, cruzo o olhar com a estonteante companheira, e caramba - não estou entendendo nada. Levanto as mão e falo pausadamente na minha língua que aquilo tudo era muito embaraçante, estranho e surreal. Recebo uma chuva de palmas, as pessoas vão ao delírio, grita,m assoviam, aplaudem, agitam os braços com alegria.

A moça sobre em largos sorrisos os degraus que nos separavam, e beija-me em frenesi. Meu Deus do céu... que beijo maravilhoso e aí ela começa a me morder e falar ... Beto... Beto... Beto. Engraçado, eu consigo entender esta parte. Beto deve ser meu nome. Sorrio para ela. Beto... Beto... aí que me dei conta, era o casamento de alguém... e a moça - Beto... Beto...

Vagamente começo a entender tudo o que falam. O salão não era bem um salão, era um templo religioso. A banda era um conjunto de arcos e cordas. Então pude concluir que eu estava no altar . E aí ela falou ... Beto, você tem que dizer SIM. Aí falei sim e infelizmente voltei ao normal, no conceito das pessoas sérias. Francamente, na minha viagem pós-despedida clássica completa aquilo estava muito mais legal.

É isto aí! 

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