quarta-feira, 11 de março de 2015

O cafajeste em mim.

Desde menino sempre sonhei em ser cafajeste. Não pela forma, mas pelo nome, sempre achei o máximo esta expressão. Ficava imaginando uma cena onde uma pessoa se aproximava e em tom de desespero, perguntava - o senhor é o Dr. Cafajeste? Sim, sou eu. Pelo amor de alguma coisa, me socorra... Aquilo era uma terapia para minhas expectativas de futuro.

Nas reuniões de família, perguntavam o que eu seria quando crescer só para ouvir a resposta e a gargalhada era geral. Tia Julinha se urinava de tanto rir; tia Telinha rolava no chão e o meu pai gritava lá do fundo do quintal - "este é o meu garoto! Que maravilha, uma coisa assim era melhor do que ser aviador, médico ou advogado".

Uns amigos do meu pai tinham umas duas ou três mulheres, estavam sempre alegres, e bem com a vida. Minha mãe não gostava deles. Falava com raiva do Carlinhos do Pneu. É um homem frio, calculista e trapaceiro. Roubou até da sogra, a dona Esmeralda, coitada, que morreu sem nada que o padrinho deixou para ela. Depois que sugou tudo da boba da Dadinha, arrumou uma putinha barranqueira -. esta era a parte que eu adorava ouvir - arrumou uma novinha, e agora fica aí andando de carro bonito e se acha o tal.. Uau; aquilo ecoava como música aos meus ouvidos (uma novinha) e seguia sorrindo para todo mundo.

Tinha o Gegê do Gás, que minha avó tremia só de ver ele lá em casa. Eu não entendia, por que ele era muito divertido, carinhoso com a esposa, mas aí vovó falava - é um cafajeste mentiroso, e a boba acredita em tudo que fala, mesmo com ele namorando com as meninas todas do bairro. Nossa! Gegê era meu ídolo - Meu sonho!!!

E o Bira da Feira? Sempre com uma camiseta apertada, mostrando os músculos. Ele ia fazer entrega das compras e tia Julinha saia pelos fundos - não suporto este machista grosseiro e insensível, dizia entre os dentes. O fato é que ele deu uns amassos nela e parece que uns tapas também, mas deve ter tido seus motivos, mas mulher não faltava na sua vida. Sempre com uma mais gostosa que a outra. E aquele cordão de ouro? Sempre quis ter um igual. 

Agora, tinha um amigo do meu pai, o Lelinho da Barra, que era meu ídolo. Tia Telinha tinha ódio dele. Ela falava assim - Lelinho? Um mau caráter, vagabundo e ambicioso e só quer mulher para sustentar suas ambições. Graças a Deus eu tive livramento daquele peste. 

Quando cheguei na adolescência, percebia que as meninas mais gostosas se sentiam atraídas pelos cafajestes, choravam e sofriam por eles, e se envolviam mesmo sabendo que as chances de o relacionamento dar certo eram mínimas. Eles eram fortes, pareciam seguros e poderosos, saiam para beber, jogar e fumar com os amigos, eram muito namoradores e tinham mulher nova todo dia, e as meninas ficavam histéricas disputando a atenção deles. Nunca entendia bem esta parte, a de que eu perdia para quem eu queria ser..

Bem, para minha grande decepção, na vida adulta não consegui ser cafajeste. O tempo passou, apaixonei pela Quitéria, uma menina tímida, até meio feinha, que morava duas casas abaixo da minha. Casei cedo, fui trabalhar no balcão de uma loja e enfim, tive três filhas e não consegui nem sequer um genro cafajeste. Agora esperar pelos netos..., quem sabe??. 

É isto aí!

2 comentários:

  1. Um prazer enorme amigo ler-te...Tenhas um fim de semana lindo!

    Cristal

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    1. Querida Rachel http://www.rachelrochaomena.blogspot.com.br/ , muito obrigado pelo carinho e pelas palavras. Um grande abraço e um vida forte feito o Cristal que está em você!

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Gratidão!