segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Beijo Eterno - Olavo Bilac


Quero um beijo sem fim, 

Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 

Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,

Beija-me assim! 

O ouvido fecha ao rumor

Do mundo, e beija-me, querida! 

Vive só para mim, só para a minha vida,

Só para o meu amor!




Fora, repouse em paz 

Dormida em calmo sono a calma natureza,

Ou se debata, das tormentas presa, -

Beija inda mais!

E, enquanto o brando calor 

Sinto em meu peito de teu seio,

Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio, 

Com o mesmo ardente amor!


De arrebol a arrebol,

Vão-se os dias sem conto! e as noites, como os dias, 

Sem conto vão-se, cálidas ou frias!

Rutile o sol

Esplêndido e abrasador!

No alto as estrelas coruscantes,

Tauxiando os largos céus, brilhem como diamantes!

Brilhe aqui dentro o amor!


Suceda a treva à luz!

Vele a noite de crepe a curva do horizonte;

Em véus de opala a madrugada aponte

Nos céus azuis,

E Vênus, como uma flor,

Brilhe, a sorrir, do ocaso à porta,

Brilhe à porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?

Só nos importa o amor!



Raive o sol no Verão!

Venha o Outono! do Inverno os frígidos vapores

Toldem o céu! das aves e das flores

Venha a estação!

Que nos importa o esplendor

Da primavera, e o firmamento

Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?

- Beijemo-nos, amor!


Beijemo-nos! que o mar

Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!

E cante o sol! a ave desperte e cante!

Cante o luar,

Cheio de um novo fulgor!

Cante a amplidão! cante a floresta!

E a natureza toda, em delirante festa,

Cante, cante este amor!

Rasgue-se, à noite, o véu

Das neblinas, e o vento inquira o monte e o vale:

"Quem canta assim?" E uma áurea estrela fale

Do alto do céu

Ao mar, presa de pavor:

"Que agitação estranha é aquela?"

E o mar adoce a voz, e à curiosa estrela

Responda que é o amor!

E a ave, ao sol da manhã,

Também, a asa vibrando, à estrela que palpita

Responda, ao vê-la desmaiada e aflita:

"Que beijo, irmã! Pudesses ver com que ardor 

Eles se beijam loucamente!"

E inveje-nos a estrela... - e apague o olhar dormente, 

Morta, morta de amor!..

Diz tua boca: "Vem!"

"Inda mais!", diz a minha, a soluçar... Exclama 

Todo o meu corpo que o teu corpo chama:

"Morde também!" 

Ai! morde! que doce é a dor

Que me entra as carnes, e as tortura! 

Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,

Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim, 

Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!

Beija-me assim! 

O ouvido fecha ao rumor

Do mundo, e beija-me, querida! 

Vive só para mim, só para a minha vida,

Só para o meu amor

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