quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A mulher dos olhos lindos

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Dia destes andava pelo Hospital, entre corredores estreitos e rostos tristes. É impressionante o quão tristes são as faces na porta dos atendimentos especializados. De alguma forma, a pessoa tenta transparecer ao máximo a sua dor para convencer o médico de que a dor do mundo é nada comparada ao seu sofrimento. 

Sentei ao lado de uma senhora, um pouco mais velha do que a minha avançada idade. Ela tinha um par de olhos dos mais lindos que já vi, coisa de cinema, e. claro, era triste prá caramba. Conversamos de tudo um pouco, até que perguntou se eu estava ali acompanhando alguém. Sim, claro, óbvio, eu disse - afinal como dizer a uma pessoa prestes a entrar num consultório que aquele sujeito desconhecido, pletórico, falante, animado e sorridente é hóspede da suíte master? Melhor que não.

Mas a maior dor daquela mulher dos olhos lindos era a solidão. Bateu nesta tecla umas dez vezes pelo menos, uma pela viuvez e as outras nove divididas entre os três filhos (duas moças e um rapaz). Fiquei sabendo dos seus nomes, profissão, cônjuges, defeitos graves da nora, etc, e que só falam com ela no Whatsapp, num aparelho no qual ela não vê nenhuma chance de ter intimidade com ele.

Na verdade, quer dizer - eu acho - que não é o aparelho que o genro maravilhoso presenteou-a no dia das mães, ao contrário dos dois filhos que sequer vieram visitá-la - meu genro é como meu filho, disse algumas vezes. Ela parece ter sentimento negativo do significado do smartphone - a simbologia que ele representa na sua solidão é um fator estarrecedor. E seus lindos olhos não continham as lágrimas discretas e eu ali, parado feito um paciente a espera de um exame.

Creio que fiquei ali sentado pelo menos por uma hora, ambos sozinhos, e ela solitária na sua dor. Meu estoico Nokia vibrou algumas poucas vezes,  e em apenas uma atendi para resolver uma questão inadiável. Já o super-maxi-potente-modernoso e maçanetado da dona não fez alarde nem alarmes (existe isto? Sim, maçanetado é o ato de dar forma de maçaneta a algo e maçaneta vem de “maçã”, devido à semelhança de formatos. E “maçã” vem do Latim MALA MATTIANA, “maçã de Mattius”, o nome de um antigo estudioso da agricultura.).

Amanhã conto mais, e me lembrem de falar sobre as duas moças do caixa do supermercado, engraçadíssimas cujos assuntos os mais variados possíveis renderam muitas gargalhadas enquanto esperávamos que a gerência resolvesse um imbróglio cibernético da máquina registradora.  Cada dia temos uma possibilidade de descobrirmos pessoas, histórias e novidades - o mundo é grande.

É isto aí!

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