sábado, 1 de julho de 2017

A namorada - Casos do Analista da Pitangueira

- Sabe, doutor, tive um sonho de novo com uma moça.

- Interessante. Quer falar sobre ele?

- Bem, desta vez cheguei atrasado para a apresentação da dança da namorada.

- Hummm, apareceu uma namorada. Sabe quem era?

- Sim, no sonho eu sabia bem, não está confusa esta identificação, chamava-se Sara Lúcia. Aí aconteceu algo inesperado - Como cheguei atrasado, as luzes já estavam apagadas, as pessoas acomodadas, então tropecei nas pernas de uma mulher que percebi que não só propiciou como ajudou na minha queda com um forte empurrão nas minhas costas.

- Conseguiu ver esta mulher?

- Engraçado, agora me lembro - parecia com mamãe - nossa era a mamãe.

Com a queda forçada, provocada pela mamãe, cai aos pés de outra mulher, de vestido sedutor, que segurou-me entre suas pernas, enquanto minhas mãos se perdiam no seu vestido preto com corte lateral acentuada. A moça permitiu uma situação sedutora. Cheguei a desejar ficar ali para sempre.

- Para sempre aos pés dela?

- Sim e não, havia mãos nas coxas e o desejo de ...

- Olha Betinho, desejo é apenas o desejo de ter desejo, ele está ali apenas para ser desejado.

- Eu entendo, doutor, mas aquelas coxas, o perfume, o ambiente ...

- A sua mãe ...

- É, tinha  a minha mãe, mas sabe que eu nem liguei para isto. Ao levantar, já me apoiando no braço da poltrona, a moça puxou delicadamente meu braço, conduzindo-me à poltrona ao lado sem tirar os olhos dos meus, e ficamos ali nos observando num olhar quase infindo.

- Foi só isto ou quer falar mais alguma coisa? Tem mais algum detalhe que lembre?

- Bem, veio então um homem imenso, sabe, parecia zagueiro de futebol americano. Ele veio para sentar ao lado da moça, onde eu já estava. Nem olhou para mim, então conversaram algo bem baixinho, e ele acabou sentando ao lado da mulher ... da mulher, caramba, ele sentou ao lado da minha mãe e deu-lhe um beijo escandaloso na boca.

- E isto despertou alguma emoção em você?

- Não tive tempo, pois assim que voltei os olhos ao palco, a moça do lado segurou minha mão e ficou, sabe, meio que apertando, meio que alisando. Aquilo foi ficando bom, tenso e excitante ... bom ... tenso e aí pensei - espera aí rapaz, ficou maluco?

- Não gostou dela?

- Não sei sobre o que está falando, senhor.

- Não se faça de bobo e não me faça perder meu tempo, gostou ou não gostou?

- Que conversa é esta?

- (mantendo a voz baixa e tensa) - gostou ou não gostou?

- Claro que gostei, mas eu não sabia ...

- Do que você não sabia, Betinho?

- Eu não sabia nada dela, nem o nome, nem idade, nem a voz, nada e ainda tinha a Sara Lúcia , e eu estava ali por ela ...

- E como conseguiu se controlar?

- Não me controlei (exaltado); não me controlei (babando); não me controlei (vermelho); eu não me controlei, caramba (chorando) ... a gente fez tudo ali, tudo, entende??? tudo ... eu não me controlei (sussurrando).

- Tudo bem, tudo bem, mas e depois do espetáculo? As luzes se acenderam, sua namorada apareceu sob aplausos?

- Mais ou menos.

- Como assim, mais ou menos?

- Mamãe consertou a roupa no corpo, toda revirada, levantou-se abruptamente e berrou histericamente: Olha Júnior, eu não te disse? A Sara Lúcia é uma drag-queen!!! E foi aquela gritaria no auditório do Colégio das Irmãs Devotas da Castidade.

- Mas e você?

- Eu o quê, doutor?

- Você sabia que ela era uma drag-queen?

- Espera, o senhor já me fez esta pergunta ...

- Com certeza não fiz, Betinho.

- Fez sim ... puta que o pariu, o senhor era o homem forte que pegou a minha mãe - quando ela berrou, virou-se para mim  e fez esta mesma pergunta .... aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh socorro, o senhor quer me destruir ... seu seu ....

- Calma, Betinho, calma ... calma ... muita calma ... um sonho é um sonho, calma. Voltemos a ele, depois discutiremos os detalhes. Calma, ok? Calma ... isto, cal ... ma!!! isto ...

- Bem, com a confusão, a moça desapareceu, o senhor também, bem como a minha mãe e eu fiquei ali, nu, em pé na poltrona gritando - Sara Lúcia ... Sara Lúcia ...

- Humm, interessante

- Aí ela me viu, acenou e veio correndo na minha direção e quanto mais se aproximava mais se ... - não, não, não pode ser ...

- Não pode ser o que, Betinho?

- Ela era eu ... meu deusinho das causas oníricas, ela era eu ...

- Semana que vem no mesmo horário, Betinho, e traga a sua mãe.

É isto aí!

2 comentários:

  1. Oi, Paulo Abreu !
    Mas que trama alucinante !
    Somente um "Analista da Pitangueira"
    para elucidar tudo isto.
    Parabéns e uma ótima semana !
    Sinval.

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    Respostas
    1. Poeta Sinval,

      Que trama, hem!! Que drama vive o Betinho! Vida que segue.
      Muito obrigado por visitar nosso espaço.

      Paulo

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Gratidão!