quarta-feira, 2 de maio de 2018

Senhor Doutor (Patativa do Assaré)

Tonico e Tinoco - Rancho de Palha - Música Sertaneja Raiz ...

Poema: SEU DOTÔ ME CONHECE?

Seu dotô, só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca sôbe quem sou eu
Nunca viu minha paioça,
Minha muié, minha roça,
E os fio que Deus me deu.

Se não sabe, escute agora,
Que eu vô contá minha história,
Tenha a bondade de ouvi:
Eu sou da crasse matuta,
Da crasse que não desfruta
Das riqueza do Brasil.

Sou aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês;
Tenho passado na vida
De quatro mês em seguida
Sem comê carne uma vez.

Sou o que durante a semana,
Cumprindo a sina tirana,
Na grande labutação
Mode sustentá a famia
Só tem direito a dois dia
O resto para o patrão.

Sou o sertanejo que cansa
De votá, com esperança
Do Brasil ficá mió;
Mas o Brasil continua
Na cantiga da perua
Que é: pió, pió, pió…

Sou o que no tempo da guerra
Contra o  gosto se desterra
Para nunca mais vortá
E vai morrê no estrangêro
Como pobre brasilêro
Longe do torrão natá.

Sou o mendigo sem sossego
Que por não achá emprego
Se vê forçado a seguí
Sem direção e sem norte,
Envergonhado da sorte,
De porta em porta a pedí.

Sou aquele desgraçado,
Que nos ano atravessado
Vai batê no Maranhão,
Sujeito a todo o matrato,
Bicho de pé, carrapato,
E os ataques de sezão.

Senhô dotô , não se enfade
Vá guardando essa verdade
Na memória e pode crê
Que sou aquele operário
Que ganha um pobre salário
Que não dá não para comê

Sou ele todo, em carne e osso,
Muitas vez, não tem armoço
Nem também o que jantá;
Eu sou aquele rocêro,
Sem camisa e sem dinhêro,
Cantado por Juvená.

Sim, por Juvená Galeno,
O poeta, aquele genio,
O maió dos trovadô,
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido cantou.

 Há mais de cem ano eu vivo
Nesta vida de cativo
E a potreção não chegou;
Sofro muito  e corro estreito,
Inda tou do mermo jeito
Que Juvená me deixou.

Sofrendo a mesma sentença
Eu já tô perdendo a crença,
E pra ninguém se enganá
Vou deixá o meu nome aqui:
Eu sou fio do Brasil,
O meu nome é  Ceará."



Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro.

Análise do poema: Armazém do Texto


10 comentários:

  1. Linda mensagem mas n entendi como é pra responder a atividade

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  2. Legal muito interessante

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  3. É um poema maravilhoso fala sobre Gratidão.

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  4. Grato pelo comentário. Volte sempre. Valeu! Um abraço

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  5. Lindo poema, fala também de sua esposa e filhos, e agradecimento.

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    1. Gratidão pela visita e por ter apreciado este belíssimo poema.

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Gratidão!