terça-feira, 17 de julho de 2018

“Os pratos que eu lavo ele não vê” Blog Pareço Louca




Amanda Machado é escritora, e tem no Blog Pareço Louca, que é muito bom, textos de rara preciosidade do universo feminino. Leia abaixo sobre o lançamento do seu segundo livro em Juiz de Fora, em matéria do Jornal Tribuna de Minas:

Amanda Machado dá voz aos silêncios das mais diversas personagens femininas em “Os pratos que eu lavo ele não vê” - Tribuna de Minas:


A escritora foi selecionada pela Quintal Edições a partir de uma chamada aberta para trabalhos de autoras mulheres. Sua obra passa a integrar a coleção Yebá, cujo propósito é destacar o papel da mulher enquanto geradora. Seus contos dão voz aos silêncios das mais diversas personagens femininas. O título? “Os pratos que eu lavo ele não vê”. Inquieta e curiosa, a jornalista se sente intimada a perguntar: “É importante se dizer autora mulher dentro do campo literário brasileiro atual?” Amanda Machado não vacila. É firme. Responde com a certeza do lugar que ocupa.

“Muito. Acho fundamental. Porque demarca uma posição, um lugar específico de onde falo. Autora mulher e de origem periférica que também faz literatura. Porque acredito que contribui para a representatividade, quem sabe possa inspirar outras mulheres de periferia a ler autoras mulheres, encorajá-las a escreverem e não se envergonharem de expor, publicar, ter seus trabalhos lidos. Assim como acho importante dizer autora mulher negra, autora mulher lésbica. Dá visibilidade, proporciona a identificação de alguém que não se vê representada quando só tem acesso, ou em um número muito superior, aos livros escritos por homens”, dispara ela, inconformada com as disparidades.

“Eles são mais lidos, vendidos, premiados e, por isso também, mais valorizados. Reconhecer-me como autora mulher, no Brasil, um país com uma cultura machista muito arraigada, ainda, é uma tomada de posição; é uma possibilidade de agradecer a todas que me abriram o caminho e convidar tantas outras que virão”, sentencia a autora, que se colocou entre os escritores publicados com seu livro de estreia “Centopeia de mil pés errados”,  nascido em 2016. Também está entre os cronistas do livro “As cidades e os desejos” (Editora Aliás) e é lida por quem acompanha suas postagens do blog Pareço Louca?!.

Amanda é Juiz-forana e lança “Os pratos que eu lavo ele não vê” na próxima quinta-feira, no Breu. A obra vai estar disponível no site da  Quintal Edições (http://loja.quintaledicoes.com.br). Já “Centopeia de mil pés errados” pode ser adquirido em www.confrariadovento.com. “Se para Giorgio Agamben, contemporâneo é aquele que mantém o olhar fixo no seu tempo a fim de nele encontrar não apenas luzes, porém escuridão, a escrita de Amanda Machado é contemporânea na medida em que nos incita a questionar as luzes-certezas da vida, convidando-nos à escuridão labiríntica da dúvida: ‘vida é improviso’. Sua prosa amorosa é assim tecida para todos os gostos, casos, gêneros, absolvições; soluções ou dissoluções, a depender do olhar de quem a lê”, garante-nos, na orelha da nova publicação, a doutoranda em Estudos de Linguagem Amanda Lopes de Freitas.

“Gostaria que o “Os pratos que eu lavo ele não vê”, em alguma medida, libertasse o leitor, o afetasse e apontasse que podemos ser diferentes. Se algum dos contos proporcionar isso, ainda que a um só leitor, será uma realização imensa.”

Marisa Loures – Na orelha do livro, Amanda Lopes de Freitas diz que nós, leitores, nos convertemos também em personagens dos seus textos “como se nos lessem, discretamente, qualquer canto escondido de alma, nossas fragilidades e pequenas coragens.” O que você espera despertar nos leitores de “Os pratos que eu lavo ele não vê”?

Amanda Machado – Susan Sontag, escritora estadunidense, disse que “aquilo que os escritores fazem deveria nos libertar, nos sacudir. Abrir avenidas de compaixão e interesses novos. Lembrar-nos que podemos, simplesmente podemos, aspirar a ser diferentes, e melhores, do que somos. Lembrar-nos que podemos mudar”. Acho que é uma aspiração belíssima e muito potente, gostaria que o “Os pratos que eu lavo ele não vê”, em alguma medida, libertasse o leitor, o afetasse e apontasse que podemos ser diferentes. Se algum dos contos proporcionar isso, ainda que a um só leitor, será uma realização imensa.

– Jorge Luis Borges procura uma palavra. Garcia Márquez fixa sua atenção em alguma imagem antes de iniciar um conto. Como surge o conto na sua mente?

– Sou muito ligada às imagens, gosto muito das Artes visuais: Cinema, Fotografia e Artes Plásticas. Elas abastecem os meus contos, alimentam as cenas e me inspiram profundamente. Mas foi a palavra que possibilitou a minha visita a outros mundos. Primeiro através da oralidade, antes de ser alfabetizada, porque sempre gostei de ouvir histórias de ficção ou verossimilhantes, diálogos entre desconhecidos; o que me chama a atenção, muitas vezes, é o estilo de contar uma história, mais até do que o próprio enredo. Gosto da multiplicidade das vozes e dos estilos particulares de narrativas. Então é a palavra que cria o meu mundo, nesse sentido, estou mais para Borges, que é inclusive um dos personagens do livro.

– Em seus contos, você dá voz aos silêncios das mais diversas personagens femininas. A Amanda Freitas falou sobre uma linha tênue que separa o real e o ficcional na sua prosa. Com qual das mulheres retratadas em seus escritos você mais se identifica? E por quê?

– Com todas, absolutamente. São diversas, mas com alguma angústia similar, um olhar para vida compartilhado. Porque elas estão atravessadas pelas dúvidas, pressões, anseios e desejos que, em alguma medida, também são meus. Elas amam, se divertem, sofrem, se recuperam ou não, mas, sobretudo, sentem-se convocadas a experimentar a vida. E acho que isso é muito próximo da minha existência, aceitar aos chamamentos e lidar com as consequências de cada um, sem saber o que virá.

“O termo literatura feminina é um incômodo na medida em que delimita, foi utilizada para acentuar uma exceção à outra literatura, porque a oficial, era (e ainda é) a masculina. Literatura feminina, a meu ver, é uma subcategoria. Homens e mulheres que escrevem e que são absorvidos pelo trabalho com as palavras fazem literatura e isto deveria ser tudo.”

– Por falar em dar voz aos silêncios das mais diversas personagens femininas, há quem se incomode com o termo literatura feminina. Você classificaria sua nova obra assim?

– Não. Classificaria como literatura cuja autora é mulher. O termo literatura feminina é um incômodo na medida em que delimita, foi utilizada para acentuar uma exceção à outra literatura, porque a oficial, era (e ainda é) a masculina. Literatura feminina, a meu ver, é uma subcategoria. Homens e mulheres que escrevem e que são absorvidos pelo trabalho com as palavras fazem literatura e isto deveria ser tudo. É claro que o gênero no qual fui socializada e com o qual me identifico me limitou, não me permitiu uma série de experiências, me deu algumas outras e tantas outras eu tive que conquistar, o que possivelmente impacta nos meus olhares, escolhas e, finalmente, escrita. Assim como a minha classe social, origem regional e raça também influenciam. Mas, historicamente, dizer literatura feminina é pejorativo.

2 comentários:

  1. Minas Gerais, 17 de julho, do inusitado ano, de 2018

    Ah..Paulo...muito obrigada. Muito grata, desde sempre.

    Seus textos, suas partilhas nesse Reino (músicas, poemas, crônicas), nossas conversas virtuais/blogais são sempre muito instigantes, encorajadoras e profundamente generosas.

    Abraços,
    Amanda

    ResponderExcluir
  2. Minas Gerais, 19 de Julho deste ano estranho de 2018

    Amanda,

    Estamos como andarilhos na jornada da vida. Que bom ler seu blog, saber dos seus livros, da ascensão que experimenta. Que bom ... que bom ...
    Eu desejo a você paz e prosperidade, um amor fiel e um coração convicto, incertezas boas e certezas coerentes.
    Segue o seu destino (não tenha medo dele, é seu e é destino), levando consigo um pouco de Fernando Pessoa, que sempre faz bem, uma pitada de Clarice, outra de Hilda, Adélia, Cecília, Drummond, e tantos outros que hão de vir a serem lembrados, notados e decorados dentro do coração.
    Mas, falando em Pessoa, Segue o teu destino,
    Rega as tuas plantas,
    Ama as tuas rosas.
    O resto é a sombra
    De árvores alheias.

    Um abraço, gratidão por tudo

    Paulo

    ResponderExcluir

Gratidão!