terça-feira, 31 de julho de 2018

Serviço de Intermediação de amor


- Bom dia, senhor, sou a Divina, e estou aqui para servi-lo. Pois não?
- Olá, é aqui que compram amor?
- Bem, nesta repartição pública não usamos este termo "comprar", mas sim, guardamos o seu amor para alguém que necessite dele.
- E como faço para vende-lo?
- Bem, senhor, a intermediação do seu amor para outrem é simples. Preencha este formulário de próprio punho e entregue no guichet 4, para o Freitas, da nossa seção responsável por este processo.

- Sr. Freitas?!
- Pois não?
- Eu vim para fazer  o processo de intermediação do amor.
- Preencheu o formulário?
- Sim
-  Deixa eu ver ... deixa eu ver ... hummmm, ihhh! rapaz - Ôôô Farias (aos plenos pulmões), Ôô Divina, chama aí o Farias no microfone. - Dr. Farias, favor se apresentar no guichet 4 ...
- O que está acontecendo? O senhor não poderia ser mais discreto? Algum problema.
- Momentinho, o Farias já vem.

- Pois não Freitas?
- Farias, olha só este formulário ...
- deixa eu dar uma olhada ... hummmm, hummmm ... nossa ... que coisa hem Freitas.

- Os senhores poderiam me dizer o que está acontecendo?

- Pode deixar, Freitas, agora é comigo. O senhor me acompanhe por favor até minha sala.
- Olha, pode deixar, eu nem quero isto mais.
- Não, não, faça isto. É para o seu próprio bem. Pode vir.
- Tudo bem, eu vou ... disse num tom de lamento.

- Bem, o senhor colocou aqui que é um amor antigo, que ainda tem cartas dela. 
- Sim, tenho algumas cartas, conservadas nos envelopes originais.
- Cartas? Este amor é do tempo das cartas? Caramba. E fotos, o senhor tem fotos?
- Tenho uma. Aqui, dá um olhada.
- Uau, que gata, hem ... mas e tem foto atual dela ou esta é da filha dela?
- É dela, eu copiei de uma rede social.
- Como é que é? De uma rede social? Dona Divina, manda chamar urgente o Almeida na minha sala.

- Dr. Almeida, favor comparecer com urgência na sala do Dr. Freitas ... Dr. Almeida ...

- Fala Freitas, qual é o assunto tão grave que me fez sair de uma reunião com...
- Almeida, ele quer desfazer de um amor antigo, mas tem foto copiada de rede social.
- deixa eu ver a foto ... uau, Freitas, que morena, hem ... é filha dela?
- Ele falou que é ela hoje, Almeida.

- Prazer, sou o Dr. Almeida, Coordenador Geral desta repartição. Quanto à foto, o senhor acessou clandestinamente ou recebeu permissão para isto?
- Eu solicitei e ela deu permissão.
- Assim? O senhor acessou a página dela, pediu licença e ela deixou entrar? E aí o senhor teve acesso a todas as fotos dela?
- Sim, foi assim.
- É ... isto é um complicador.
- Como assim?

- Senhor, só por curiosidade, quanto o senhor quer por este amor?

- Dr. Almeida, eu quero o fim da insônia, a redução da angústia e o aniquilamento da saudade.
- Mas olha que morena, hem... O senhor tem certeza?
- Tenho.
- Sem olhar a foto, descreva-a para mim.
- Ela é linda, é mais nova que eu entre três e quatro anos, morena, tem um metro e cinquenta e cinco mais ou menos, cabelo escuro liso e curto, partido da direita para a esquerda, olhos castanhos amendoados, olhar triste, sobrancelha bonita, sorriso encantador, duas covinhas, uma boca celestial, uma voz aveludada, mãos de fada ...
- Pode parar. Olha, eu vou te falar que o preço até está justo, mas num caso destes a gente não compra, por que amanhã o senhor estará aqui arrependido. E disto eu conheço. 
- Mas ... mas ...
- Sinto muito ...

É isto aí!

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