terça-feira, 3 de julho de 2018

Tengo Miedo - Pablo Neruda

Tenho medo. A tarde é cinzenta e a tristeza
        do céu abre-se como uma boca de morto.
        Tem o meu coração um pranto de princesa
        esquecida no fundo de um palácio deserto.

        Tenho medo. E me sinto cansado e pequeno
        refletindo a tarde sem meditar sobre ela.
        Na cabeça doente não cabe um menino
        sonhando, assim no céu não caberá uma estrela.

        Nos meus olhos, no entanto, uma pergunta existe,
        um grito em minha boca e a boca não grita.
        Não há órgão que escute minha queixa mais triste
        abandonada em meio à terra infinita!

        Vai morrer o universo em sua calma agonia
        sem a festa do sol e o crepúsculo verde.
        Agoniza Saturno e sua pena me enlia,
        a terra é fruta negra que o céu nunca perde.

        E pela vastidão do vazio vão às cegas
        as nuvens que entardecem, são barcas perdidas
        que esconderam estrelas rotas nas adegas.
        Cai a morte do mundo sobre a minha vida.

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