terça-feira, 31 de março de 2020

Cartas a Deus II


Deus, sim eu sei, no princípio o Senhor criou o céu e a terra, e a terra era sem forma e vazia. Eu não discordo, não acrescento nada, mas acho que quem o Senhor determinou que colocasse no papel o Gênesis teria, por descuido ou ignorância ou desinformado, esquecido do mundo microbiológico que antecede à vida de nós outros. É possível que apenas desconhecia o que não pode ser visto. Mas tudo bem, eu ouso refletir que caberia uma pequena revisão celestial, bem ali entre o fim do segundo e a madrugada do terceiro dia.

O fato é que eu e todos os que são imagem e semelhança do Senhor, temos cerca de 80 bilhões de neurônios e 10 trilhões de células que nos fazem valer a pena viver e as bactérias que habitam em nós são cerca de 100 trilhões de indivíduos. E os vírus são como grãos de areia numa praia deserta. Incontáveis. 

Além deles, temos as organelas, sendo a principal a Mitocôndria, que na plena convicção veio de Eva. Só as mulheres têm o poder de nos dar luz e calor. São as mitocôndrias, estes micro-organismos altamente complexos, que geram sozinhos toda a energia que consumimos. E isto é graças a Eva, e olha que poucos a agradecem por isto.

Eventualmente não há como desaperceber o caos que impera nas nações deste planeta. Tudo fica absurdamente fora do lugar, visto assim de uma maneira quase normal. Mas cá para nós, o que foi normalidade por aqui nos últimos hummmmm seis mil anos?

O que está destituído de razão, de propósito ou de sensatez? Sob qual ponto de vista? Está cada vez mais difícil o espírito socrático de perguntar por aí o que acham disto. Existem pessoas que não acham nada, mas têm (pasme, Senhor) uma esferográfica atômica ao alcance das mãos, e numa canetada, têm o poder de baixar decretos ou afetar e/ou eliminar outros humanos numa asséptica mortandade das infinitas bactérias hóspedes dos que lhe são imagem e semelhança. 

Então, Deus, esta carta é só um desabafo. Acho que o problema ainda é o mesmo - algumas pessoas continuam ignorando aquilo que não podem ou se recusam a ver. Ou pode ter ocorrido uma mutação com o surgimento de micro-organismos afetando os neurônios de certos coisos e coisas, cujo desalinhamento serve para dizimar as bactérias que ousem ser livres. Rogo que atenue a ação destes vírus deformadores da sua criação. Seja o que for, atendei a nossa súplica - livrai-nos do mal (o Senhor sabe quem ...)

A sua benção!

É isto aí! Amém.

domingo, 29 de março de 2020

Nada de novo no front da pandemia

O Grito Edvard Munch

Tudo agora é a pandemia. As questões sociais, espirituais e econômicas passam pelo vírus, como um deus invisível a colocar todos  sob seus pés, como se deuses os tivessem. Nós e esta mania estúpida de achar que tudo se assemelha ao que já conhecemos.

Mas não era sobre isto que ia falar. Eu queria falar sobre  "Nada de novo no front" - no final o protagonista morre - pronto, já contei o fim. Agora siga o roteiro e faça você também a sua analogia.Tire a palavra Guerra e coloque Epidemia.

Abaixo o texto que copiei e colei:
Copiei deste site: obviousmag.org 
Nesta página: Nada de novo no front

A obra cinematográfica Nada de novo no front, do diretor Lewis Milestone filmado na década de 1930 é uma adaptação do romance de cunho crítico e pacifista do escritor alemão Erich Maria Remark que havia servido nas trincheiras da primeira guerra em 1914 aos dezoito anos de idade. O autor do livro também sofreu com as atrocidades da primeira grande guerra deferida em capo de batalha. Experiência suficiente que lhe forneceu arcabouço para desenvolver o livro “Im Westen nichts Neues”.

“A oeste nada de novo”, no Brasil – Nada de novo no front - cujo filme abarca as experiências do jovem germânico Paul Baümer e seus companheiros que durante a guerra vão se conhecendo e vivendo experiências terríveis à medida que os desdobramentos dos fatos mostram a dura realidade do campo de batalha, onde cada um dos amigos morre, e apenas Paul (o personagem narrador) toma conta do desfecho central do filme onde, na medida em que narra às experiências, também desperta sobre seu papel e questiona tudo que vive. Paul acaba morto, mas a reflexão deixada oferece um roteiro bem adaptado e um filme que reserva várias reflexões acerca das consequências da primeira guerra mundial e seu impacto no mundo.

Até o final do século XIX as grandes potências já haviam se envolvido em guerras nos anos anteriores, contudo um conflito mundial da proporção que se desdobrou nunca havia sido experimentado pela humanidade. As sociedades ainda não haviam se estruturado de maneira mais heterogênea e seus grupos sociais, mesmo que distintos ainda não haviam percebido o quanto as novas tecnologias e consequências da revolução industrial poderia fornecer ou transformar o mundo que viviam as consequências econômicas, sociais, culturais e políticas estavam acendendo um barril de pólvora de hostilidades.

As grande potencias continentais como o Império Germânico, o Russo, o Império Austro-húngaro, França, investiam no neo colonialismo em terras Africanas que no estágio que se seguia a partilha da África aprofundava ainda mais as tensões que eram localizadas fora da Europa.

“Até o fim do século XVIII, essas potências tinham sido socialmente homogêneas, todas eram ainda sociedades primariamente agrárias, dominadas por uma aristocracia fundiária e governadas por dinastias históricas legitimadas por uma igreja estabelecida. Cem anos mais tarde, tudo isso fora completamente transformado ou estava sofrendo uma transformação rápida e desestabilizadora; mas o ritmo da mudança fora muito desigual. ”(HOWARD,2011,p.22)

Até o estopim de acontecimentos que são resultados de diversos fatores o historiador Eric Hobsbawm explica que desde a primeira grande guerra até a segunda seriam trinta e um anos de conflitos, neste sentido ambas as grandes guerras teriam seu estopim desde a declaração de guerra da Áustria contra à Sérvia em 1914, até a rendição do Japão 1945 depois de Hiroshima e Nagasaki. Para Hobsbawm, de 1815 até 1914 não havia existido nenhuma grande guerra entre potências, apenas os conflitos localizados em partes isoladas é que teriam sido travados por interesses diversos e não se coadunando por um objetivo mais significativo de expansão mundial. Conflitos entre Japão e Rússia, a Guerra da Criméia (1854-6), entre a Rússia e Grã-Bretanha e França.

“Paz significava antes de 1914: depois disso veio algo que não mais merecia esse nome. Era compreensível. Em 1914 não havia grande guerra fazia um século, quer dizer , uma guerra que envolvesse todas as grandes potencias, ou mesmo a maioria delas, sendo que os grandes participantes do jogo internacional da época eram seis grandes potencias europeias (Grã-bretanha, França, Russia, Áutria-Húngria, Prússia – após 1871 ampliada para a Alemanha – e, depois de unificada, a Itália), os EUA e o Japão .”(HOBSBAWM,1995,p.30)

Este conflito resultou justamente, na progressão de acontecimentos, que é quase consenso entre os historiadores contemporâneos do qual tudo realmente se passou como uma grande guerra de 1914 a 1945. Seria neste sentido que ao pós guerra estimulou o grande turbilhão de ideologias e novas estruturas no mundo, desde a economia com o comunismo e o grande embate durante os anos de 1950 com entre os EUA e a Rússia. No filme nada de novo no front centralizado na primeira guerra, nada do pós guerra é mostrado, contudo as perdas na Europa foram imensas desde humanas a econômicas.

“Locais, regionais ou globais, as guerras do século XX iriam dar-se numa escala muito mais vasta do que qualquer coisa experimentada antes. Das 74 guerras internacionais travadas entre 1816 e 1965 que especialistas americanos, amantes desse tipo de coisa, classificaram pelo número de vitimas, as quatro primeiras ocorreram no século XX: as duas mundiais, a guerra do Japão contra a China em 1937-39 e a guerra da Coréia. A maior guerra internacional documentada do século XX pós napoleônico, entre Rússia-Alemanha e França, em 1871, matou talvez 150 mil pessoas, uma ordem de magnitude mais ou menos comparável às mortes da Guerra do Chaco, de 1932-35, entre Bolívia e Paraguai. Em suma, 1914 inaugura a era do massacre. ” (HOBSBAWM,1995,p.32)

Além de todos este panorama vale salientar os atenuantes que aconteceram após a primeira guerra, quando a Alemanha foi rechaçada e humilhada com grandes penas durante o tratado de Versalhes, onde as medidas de contenção expansionista do império alemão deveriam ser controladas e a perda de territórios com graves consequências para sua geografia, e uma verdadeira reordenação dos diversos estados nação que surgiriam pós primeira guerra. Mesmo as grandes potencias vencedoras como Grã-Bretanha e França Jamais, ou pelo menos até o final da segunda guerra voltaram a se recuperar das grandes perdas econômicas e humanas, pois toda uma geração de homens novos (jovens) haviam sido mutilados ou mortos famigeradamente durante a guerra de trincheiras, se não morriam ficavam doentes e não rendiam nos campos de batalhas. A guerra que antes era algo romântico parecia depois disso um terreno tenebroso para aqueles que se desencantavam com a dura realidade das trincheiras.

 A obra de Hobsbawm mostra as conjunturas políticas e econômicas a respeito do conflito, no filme estes aspectos não são levados em consideração pois a perspectiva é centrada nos acontecimentos sucessivos que envolve tanto o principal personagem o soldado Paul Baumer, quanto seu amigos de regimento. No livro, em consonância com o filme a celebre frase destaca como já de início a guerra é algo aterrorizante. “A morte não é uma aventura para aqueles que se deparam face a face com ela” o livro em si é muito mais duro que o filme, diga-se de passagem, mas a atmosfera de uma adaptação cinematográfica nem sempre leva em consideração pontos tão específicos. Mesmo em momentos trágicos há sempre meios mais leves de deixar a película menos conflitante.

O cunho pacifista da obra, choca-se em determinados momentos com o filme, muito mais um triler psicológico do que centrado nas imagens que o livro denota como os massacres que vez por outra embrulham o estômago do leitor, contudo com dose certa de humor o filme em alguns momentos deixa a atmosfera mais leve. Mesmo no contexto social e romântico da belle époque a primeira guerra deixou marcas quase que intransponíveis nos jovens que lutaram a seu tempo, em 1940 o mundo havia mudado e as lutas nacionalistas ditavam, a belle époque tinha sido deixada para trás e um novo mundo, como consequência da primeira grande guerra havia sido deixado para trás.

“A primeira guerra mundial pôs fim a Belle époque, nome dado aos primeiros anos do século XX, que teriam sido felizes e despreocupados. Quando se fala em Belle époque tem-se em vista os privilegiados da fortuna, a gozar as custosas amenidades das grandes cidades, particularmente Paris. O fato é que também o europeu comum já desfrutava de melhores condições de vida e tinha esperanças de dias melhores, trazidos pela revolução industrial e pelas transformações sociais. Mas havia acontecimentos a apontar em sentido contrário e que deram lugar ao atentado de Sarajevo, o estopim da guerra. ” (MAGNOLI, 2009,p. 319)

O filme com seus tons Noir, reservado aos grandes filmes de romances da época de grande depressão, mostra justamente este final de época, cujo desvelo se mostra através de toda a frustração do soldado Paul Baumer. A história de Paul revela toda uma consequência muito maior de uma romance que entre o período de entre guerras teve como consequência uma película competente em revelar nuances importantes do livro de Eric Maria Remark. Com isso o filme traça todo um panorama e drama psicológico que centra seus acontecimentos nas reflexões e situação do soldado Paul.

Neste sentido, torna-se mais palpável como o filme revela toda a frustração de uma geração durante o pós-guerra sobre as atrocidades, como informa o historiador Eric Hobsbawm, ou Michael Eliot Howard, dois grandes analistas da história contemporânea, que descrevem os cenários e através de análises apuradas revelam o contexto que cerca o filme, a luz de suas colocações pode-se traçar um breve panorama do que representou a guerra e como o filme, como importante romance busca conscientizar sobre um dos primeiros grandes conflitos do séc. XX.



© obvious: http://lounge.obviousmag.org/publicando/2013/12/nada-de-novo-no-front-o-desencanto-de-uma-geracao-desgracada-pela-primeira-guerra-mundial.html#ixzz6I86hsN53
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sábado, 28 de março de 2020

Do dia que te vi (Paulo Abreu)


Sensações estranhas 
ocorrem a todo instante
e nenhuma delas
trás você de bicicleta

Também nenhuma delas
coloca você num boeing
voando sobre o planeta
só para me abraçar

Tentações estranhas
loucamente humanas
trazem você sorrindo
com seu batom nude.

Abracei você ontem
ausência me afligindo 
foi ontem, quero agora
ser o seu azimute.


É isto aí!







sexta-feira, 27 de março de 2020

Odete, a corona-zumba de Brasília


Saudades do tempo que meu bom e admirável Nokia fluía como um telefone fixo com asas. Por determinação do Inmetro, do DNIT, do Detran, da ANVISA, CIA, FBI, APTabajara, Bill Gta, do Depto Disto e Daquilo, do Débito e mormente do saldo devedor de décadas, fui compulsoriamente convidado a obter este smartphone, o telefone inteligente que me cerceia do direito de excluir minha existência quando bem entendo.

Deu que madrugada destas zumbiu com sua desqualificada zumba de smart. Tudo bem que zumbir é de origem onomatopaica, mas quando levado à conjugação verbal, na terceira pessoa o outro zumba. Quando uma moça zumba no ritmo caribenho para fortalecer glúteos e pernas, estaria também a zumbir feito uma abelha? Nunca saberei, são dúvidas por demais complexas.
  
Se se opero pelo pretérito perfeito, na primeira pessoa, eu zumbi ...  mas "Zumbi" provém do termo quimbundo nzumbi, que significa duende ou cadáver ... que vaga à noite assombrando as pessoas, inclusive em seus sonhos. Ou seja, no passado perfeito eu zumbi vagando à noite, assombrando as pessoas. Uau! Melhor não ter nunca um passado perfeito.

Voltando ao zumbir do smartphone, do outro lado da célula era Odete. Reza a lenda que em badalada e tradicional festa regada a tudo, inclusive água, numa mansão às margens do Paranoá, Odete, usando apenas uma coroa, deu uma zumba extrapiramidal, que zumbiu por todos os poros de todos os presentes, a tal ponto das pessoas que ali trafegavam ficarem surdas como mercadores moucos para reclames da choldra tabajara até os dias de hoje.

- Odete!!!! Querida, que saudades.

- Amore, eu estou aqui, para todo o sempre, por você. Vem me ter em Brasília.

- Odete ... puxa vida ... mas conta as novidades.

- Meu bem, serei brevíssima, pois estou acompanhando uns bondosos e excitados velhinhos do sistema perdulário a manterem as contas elevadas entre parênteses tributáveis.

- Odete sendo Odete ...

- Amore, serei brevíssima. Dia destes estava com Madre Freda

- Madre Freda? Você voltou sua face ao Criador?

- Amore, sim, voltei às origens de Gaia, pois Madre Freda é a mãe de um terreiro onde encontro com todas as celebridades e celebérrimas da pátria amada, mas por força de contrato, em nome da pátria, da moral, da família e dos bons costumes, ela nunca é citada. Assim revelou-nos a fonte do saber e da luz atemporal do planalto:
Filhinhos  e filhinhas, eis que é chegado o tempo do paradoxo formulado por Zenão  que afirma que o movimento dos objetos é um fenômeno irreal e contraditório, consistindo sempre em mera ilusão dos sentidos.

- Uau, Odete ... isto quer dizer ...

- Não sei, não quero saber. Vem para Brasília me ter, amore. Deixa eu zumbar em você.

- Alô, alô ... Odete ... Odete ... droga, a zumba foi demais para o smart ...

É isto aí!

terça-feira, 24 de março de 2020

sexta-feira, 20 de março de 2020

Sobre o amor nos tempos da quarentena


Já li em algum lugar da psicanálise, que para uma história de amor acontecer é porque duas fantasias se cruzaram! Só isso, nada mais que isso! Até porque, o amor é uma grande fantasia!

Duas fantasias se cruzam em determinado momento, e aquilo, que é do sujeito, ele transfere para o Outro. Podemos dizer que isso é amor! O amor, está na capacidade que o sujeito tem de dar o DOM, que é do sujeito e nada mais que isto, porque o Outro é sempre uma invenção.

O objeto amado é criado, inventado, muitas vezes transformado por quem ama. Por isso que amar, é também muitas vezes morrer. Ir junto com quem se ama, não é ilusório ou impossível. Quantos mortos ainda estão vivos se fazendo presente em suas vidas.

Fonte:
https://blogdapsicanalise.com.br/2015/02/07/arte-e-psicanalise-desejo-amor-e-morte/

Um vírus inteligente




A reportagem é de Elena Dusi, publicada por La Repubblica, 14-03-2020. 
A tradução é de Luisa Rabolini.
Fonte: Unisinos 

Existem vírus estúpidos e vírus inteligentes. Os primeiros, como o Ebola, matam rapidamente seus hospedeiros. Já os últimos, atingem a todos com sintomas leves. Mantêm as pessoas viajando, trabalhando e saindo de férias, apesar de alguns calafrios e o nariz entupido. Eles voltam para casa à noite com a família, não cancelam o jantar com os amigos marcado há algum tempo ou se jogam na empreitada esportiva para a qual haviam tanto treinado. Eles se espalham por todo o mundo até o nível da pandemia, declarado oficialmente pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março. "A palavra parece sugerir que não há mais nada que possamos fazer para conter o vírus", explicou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Isso não é verdade. Estamos empenhados em uma luta que pode ser vencida se fizermos as coisas certas".

Rápido e esperto

O coronavírus que enfrentamos é um inimigo particularmente inteligente. 80% dos infectados apresentam sintomas leves. Parece que, nos diziam um mês atrás - mas parece que uma vida se passou - não mata certamente como os outros coronavírus da Sars e Mers. Por que se preocupar tanto, é uma gripe ou pouco mais. Enquanto isso, ele, sem ser visto pelos radares, viajava a bordo de indivíduos insuspeitos, com apenas sintomas incipientes ou completamente irrelevantes. E indo rápido, mostrava uma letalidade bastante baixa (3% contra 10% da Sars e 34% da Mers). Até triturar, com sua constância, os recordes de contágios e de vítimas dos muito mais agressivos coronavírus irmãos.

Território desconhecido

"Nós nos movemos em um território sem mapas", advertiu Ghebreyesus. Três meses após a descoberta da epidemia, não temos curas, não entendemos exatamente quem é contagioso, por que as crianças apresentam sintomas muito mais brandos que os adultos e por que as mulheres se saem melhor que os homens, nem sabemos quão bem fundamentada seja a esperança de que o vírus seja sazonal e acabe se eclipsando com a chegada da primavera. "Estamos enfrentando a ameaça número um do mundo", disse o diretor da OMS. "Um vírus pode ter efeitos mais poderosos do que qualquer ataque terrorista". Era 11 de fevereiro e parecia um exagero. Um mês depois, trancados em casa ou atrás das máscaras, prestando atenção à nossa volta e mudando de calçada caso tivesse alguém no caminho, percebemos como ele estava certo. Do outro lado, destaca Benedetta Allegranzi, diretora mundial do serviço de prevenção de epidemias da OMS, "as epidemias podem nos fazer superar o individualismo e redescobrir que somos um conjunto e temos responsabilidades coletivas". É muito improvável que o coronavírus nos prejudique diretamente. É muito mais fácil que nossas imprudências tenham efeitos que recaiam sobre os ombros dos outros: os doentes mais frágeis ou o pessoal do sistema de saúde.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Nunca se sabe

deviantart.com

Chovia torrencialmente quando resolveu sair para espairecer. Não sabia mais como lidar com a dor do abandono. Não notou a chuva, não percebeu as ruas, não deu conta do quanto caminhou. Chegou a lugar nenhum e ali encostou num canto e tal qual a chuva, desabou-se.

Não viu aproximar-se a madrugada sem nuvens, sem luar e sem ela. Voltou a perambular, quando escutou alguém chamando pelo nome. Uma voz macia, suave e rouca o fez olhar para o lado direito. Desejou que fosse a mulher dos seus sonhos. Mas era uma moça de aparência tão dolorida quanto a sua. Está com medo? - perguntou-lhe a garota. Está com medo de mim?

Estou. Estou com medo de você, estou com medo de mim, estou com medo de algo maior, algo menor, estou com medo de perder o medo e não ter mais o que ter ou ser para dar ou receber. Estou com medo de viver, medo de morrer, medo de amar, medo de me entregar, medo de ser abandonado. Tudo que eu tenho é o medo, por favor, não leve ele de mim.

Ela abriu os braços, deu um sorriso - venha aqui. Foi sem perceber como, fechou os olhos e abraçou-a. Não soube dizer quanto tempo ficaram ali, por que o tempo deixou de existir. Quando abriu os olhos, ganhou a rua e partiu no mundo, ou não, nada estava no lugar. Nunca se sabe quando se abraça a morte, refletiu. Mas era seu dia de sorte, aquele anjo, conhecida por Tanatos  não o queria para si, desejava apenas confortá-lo.

Alvorecia quando chegou em casa. Abriu a porta, era a a sua casa, mas tudo que estava ali não lhe pertencia. Olhou espantado para a mudança que experimentava. Não sabia como denominar o que para uns seria loucura, para outros demência, resolveu então chamar o fenômeno de um nome que veio à mente - galenskap. Assim que nomeou a loucura, a nova vida e novo sentido que experimentava, permitiram ser adsorvido pela sua existência renascida. Ainda se sentia abandonado, pois amor é para sempre, mas agora sabia que poderia contar com sua galenskap até que a morte os separe.

É isto aí!

Apocalipse 7:1-8

Da tribo de Judá, havia doze mil selados; 
da tribo de Rúbem, doze mil selados; 
da tribo de Gade, doze mil selados;
Da tribo de Aser, doze mil selados; 
da tribo de Naftali, doze mil selados; 
da tribo de Manassés, doze mil selados;
Da tribo de Simeão, doze mil selados; 
da tribo de Levi, doze mil selados; 
da tribo de Issacar, doze mil selados;
Da tribo de Zebulom, doze mil selados; 
da tribo de José, doze mil selados; 
da tribo de Benjamim, doze mil selados.

A etimologia de cada um dos filhos de Israel:

Judá - "agradeço a Deus" ou reconheço a Deus .
Rúbem - “O Senhor atendeu minha aflição.”
Gade - "sorte", "fortuna" 
Aser - "Feliz por mim; agora todos me chamarão de feliz" 
Naftali - "Minha luta"
Manassés - "esquecimento" “aquele que está entregue ao esquecimento (perdão)”
Simeão - “ele ouviu”
Levi - "união"
Issacar - Prêmio, Recompensa para coabitar 
Zebulom - Deus me concedeu, dádiva
José - "Deus apagou minha afronta"
Benjamim - "filho prospero".

Eu louvo e agradeço a Deus!
O Senhor atendeu à minha aflição,
e me concedeu boa sorte;
Agora todos me chamarão de feliz.
O Senhor viu a minha luta
Entregou meus erros ao esquecimento.
Deus ouviu minhas súplicas
E permitiu que me unisse a Ele,
e como recompensa recebi uma das suas moradas
Deus concedeu-me Graças
Apagou todos os meus pecados
E tornei-se um filho próspero.





quinta-feira, 12 de março de 2020

A falta que você me faz (Paulo Abreu)

Bringing up baby - 1938


No domingo a amava 
delirantemente.
Na segunda desamamos
estupidamente.
Na terça o vazio
integralmente.
Na quarta a falta
abducente
Na quinta a ausência
adredemente
Na sexta a angústia
açambarcada
Agora, sábado
a tristeza e mais nada.


É isto aí!

terça-feira, 10 de março de 2020

Pindorama é piada pronta!


Como sabem, no Reino Monocrático da Pitangueira temos um dos mais potentes putoscópios voltados para Pindorama, ex-reino vizinho, agora colônia agrícola literalmente deitada, e eterna mente. A furiosa Neo-Cologne finalmente assumiu seu lado antropológico e em breve tornar-se-á a mais nova república guarani das bandas de cá com cassinos, praias fechadas, ruas descalças e índias nas vitrines

Em relação aos índios, a mentalidade colonial continuará a mesma. Existe, com enorme esforço, apenas o desejo de integrá-lo numa "sociedade dos homens de bem" como força de trabalho não produtiva, mas continuando aos prazeres voyeuristas ofertados pela matricial orwelliana do bem.

Os inocentes guaranis sempre acreditaram no mito dos "heróis civilizadores" que voltariam um dia  e se deixaram confundir com essa crença global, digamos assim, talvez por isto não abriram mão dos direito da poligamia, da antropofagia, do carnaval e de outras cositas más.

Mas o incrível mesmo é que um dos ídolos de Pindorama foi apreendido recentemente em flagrante delito na ex-república guarani (a original) por portar documentos falsos da atual, que é uma cópia muito chinfrim. Caciques bufaram, bateram o tambor, vamos chamar o caxias ... Pindorama é piada pronta!

É isto aí!


quarta-feira, 4 de março de 2020

Para todo o sempre (Paulo Abreu)


"Para todo o sempre" é um poema que fiz para falar das histórias que carregamos de forma temporal mensurável e atemporal genômica. Nossas vidas são muitas vidas que carregamos dentro de nós.  

Trazer à superfície
versos finos e delicados, 
tão explícitos sobre você
é mergulhar dentro do ego.

Quanta saudade, quantas vidas
deram-se ou magoaram
ou formaram feridas mortais
para estarmos aqui?

Escrever este poema
descrever este tema
falar de amor sem rimas
é como penetrar na sua retina

No labirinto do sagrado
da intocável alma
abraçar você para sempre
e dizer - agora estamos aqui

Para sempre
para todo o sempre


É isto aí!


segunda-feira, 2 de março de 2020

A hierarquia celestial


Acenou da curva, num gesto de adeus. Desceu a ladeira descalça de meninos pelados em festa de futebol com bola de meia, atravessou a praça onde tantas vezes sonhou em ser pipoqueiro, engraxate ou fotógrafo, entrou no ônibus e nunca mais voltou.

É estranho partir assim, sem dizer alguma coisa, refletiu. Desistiu de passar pela Matriz, para a última oração. Teria pela frente duas horas de estrada de terra até chegar na cidade onde embarcaria para o Rio de Janeiro. Cleidinha foi quem recebeu e percebeu o aceno. As pernas tremeram, as lágrimas fluíram. Correu na Matriz, ajoelhou-se e pôs a rezar tudo que sabia. 

Dia seguinte, amanhecendo com preguiça, chuvisco com ventania, ele desce na padaria, vindo de carona do caminhão de leite. Desceu cabisbaixo, triste e sem graça consigo mesmo. A Ponte Velha quebrou com a chuva e ninguém passava. Tinha prazo para chegar. Agora o rio matou o Rio.

Cruzou com Cleidinha, a moça abriu os braços,  gritou, correu e pulou nos seus braços, com as pernas roliças entrelaçadas e beijo esfomeado. Eu sabia que você vinha, eu sabia que você vinha. Eu sabia!!!!! Eu sabia!!!

E como você tinha tanta certeza, Cleidinha? - perguntou o enamorado.

Uai, eu pensei assim, disse sorrindo seus dentes alvos - Rio de Janeiro é cidade de São Sebastião, aqui é de São Pedro, fui na Matriz e falei com São Pedro - Olha só, eu sou dele e ele é meu. Vim pedir o que é meu - o senhor manda ou não manda? Aí esperei o veredito.

É isto aí!