sexta-feira, 12 de junho de 2020

O afago, o beijo e a saudade.


Sentou-se à frente da tela do computador ou tubo de imagem como era conhecido no seu tempo e ficou a divagar sobre o mundo, as tecnologias e as mudanças que testemunhou na sua vida. A radiola e o disco de vinil eram anteriores bem como os rádios à válvula, seguidos por televisões à válvula, imensas, pesadas, imagem em preto/branco/cinza, poucos canais e péssima sintonização. Lembrou uma vez na vida adulta quando foi ao Rio de Janeiro e viu que não era cenário, era tudo real.

Aí vieram os rádios e TV's transistorizadas, as rádios FM, as calculadoras de mão, um avanço da tecnologia, depois começaram a aparecer aqui e ali computadores domésticos com memória e programação em fita cassete, vieram os toca-fitas, os vídeo-cassetes, e depois tudo foi sendo mudado numa velocidade que fez da máquina fotográfica com filme, da máquina de escrever com fita, dos errorex coisas do passado longínquo.

Sentou-se com a cabeça no século XX diante de uma modernidade do século XXI. Sentiu-se a transição entre as partes, o tempo e as histórias. Tomou uma taça de vinho e ficou refletindo sobre seu dia. Leu nos jornais a derrubada das estátuas pelo mundo, e sentiu que aquilo é prenúncio de algo maior, que não está escrito em nenhuma cartilha de modernidade.  

Os tempos chegaram, murmurou. Olhou para a foto digital da amada, acariciou-a, sorriu para ela e para si e foi dormir, por que sonhar ainda é permitido. Amanhã, pensou, é hoje, só que com data diferente. Refletiu sobre tomar uma segunda taça de vinho, mas aí seria muita aventura para um dia só. Levantou-se e lembrou do dia que afagou-lhe o rosto, acariciou seus cabelos e beijou sua boca carmim. Chorou baixinho. Só disto tinha saudade. 

É isto aí! 

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