sábado, 20 de junho de 2020

Tínhamos a ideia, você mudou os planos.


Estava no imenso vazio existencial quando percebeu que encontrar-se-ia consigo mesmo, vindo em sua direção pelo lado esquerdo. Era inevitável o encontro, até mesmo porque do lado direito vinha seu outro eu, também em sua direção. Ambos aceleram o passo, numa ridícula tentativa de chegar primeiro. 

Naquele instante mágico, não sabia mais se dormia ou se estava acordado, mas sentiu um imenso poder de mergulhar em um mundo totalmente novo e secreto. A colisão foi inevitável. Os dois outros "Eu" fundiram suas estruturas etéreas no seu corpo. Pela primeira vez entendeu o discernimento do tempo no seu inconsciente.

Então desejou ter asas, pensou nos anjos e nas aves migratórias. As asas o fariam sair da profunda cratera provocada pelo impacto entre seu eu-passado e eu-futuro, seu sonho e sua realidade, sua esperança e seu amor. Transporia todos os obstáculos até chegar, quem sabe, ao objeto de desejo.

Provocado pela fusão dos tempos e variáveis da vida, caiu em prantos. Buscou nos bolsos o maço de cigarros que o acalmaria. No meio do caos, sorriu. Não fumava desde a juventude, mas toda vez que se encontrava num vazio de tamanha complexidade, a vontade reacendia.

Pensou em milhões de possibilidades para evitar recordar-se da real situação que promoveu sua dor. Acabou adormecendo pela fadiga, pelo estresse, pela angústia e pela agonia. E teve os sonhos que o libertavam. Em todos, ela aparecia. Sonhos não têm limites, nem lógica ou censura, falava consigo mesmo enquanto sonhava. 

Ao despertar, enquanto refletia sobre os dois mundos, lembrou de um trecho de "Sereníssima", gravada pelo Renato Russo:

Tudo está perdido mas existem possibilidades
Tínhamos a ideia, você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de ideia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia
Antes eu sonhava, agora já não durmo

Filosofou sobre isto - "Antes eu sonhava, agora já não durmo". Não durmo por que estou dentro do sonho ou não sonho mais por que estou com os dois pés na realidade? Era a paradoxal dicotomia espaço-temporal, tentando romper com o caos para encontrar a Paz. Se a encontrar, por favor, não me acordem.
 
É isto ai!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!