segunda-feira, 6 de julho de 2020

Mas ... onde vai a felicidade?


Chorou pela última vez às quatro horas da manhã. Teve um sonho estranho onde as pessoas não se encaixavam nas cenas. Era como um teatro do absurdo, cuja expressão foi cunhada pelo crítico inglês Martin Esslin (1918 - 2002) no fim da década de 1950 para abarcar peças que, surgidas no pós-Segunda Guerra Mundial, tratam da atmosfera de desolação, solidão e incomunicabilidade do homem moderno por meio de alguns traços estilísticos e temas que divergem radicalmente da dramaturgia tradicional realista. .
Levantou-se com dificuldade pela dor nas articulações, fez as orações e o rito da ablução tantas vezes repetidas que já não fazia sentido inverter a ordem. Foi à cozinha, preparou o café, sem açúcar - de doce já basta a vida, repetia sempre. Sentou-se à mesa, na copa, de frente para as montanhas, na gelada manhã que demorava a se pronunciar e contemplou o nada.

Passou na memória uma fala do personagem Vladimir em "Esperando Godot" , obra imortal do Nobel da Literatura, o irlandês Samuel Beckett (1906 - 1989):

“O que estamos fazendo aqui, essa é a questão. Foi-nos dada uma oportunidade de descobrir. Sim, dentro desta imensa confusão, apenas uma coisa está clara: estamos esperando que Godot venha…

O certo é que o tempo custa a passar nestas circunstâncias, e nos força a preenchê-lo com maquinações que, como dizer, que podem, à primeira vista, parecer razoáveis, mas às quais estamos habituados. Você dirá: talvez seja para impedir que nosso entendimento sucumba. Tem toda a razão. Mas já não estaria ele perdido na noite eterna e sombria dos abismos sem fim?” (Vladimir)

Enquanto tomava o café, meditava: na fala de Vladimir e nos absurdos da sua vida.

O que estou fazendo aqui? Pensou e a refletiu que a resposta nunca vem - Godot, Deus, os Anjos, os Santos, o Sentido da Vida, a Felicidade ou quem de direito de igual quilate nunca aparece para dar explicações, filosofou .Mais uma vez chorou, percebeu o imenso vazio da solidão no meio de sete bilhões de humanos vivos no mesmo planeta. 

- Viver é arriscado demais, pensou, não tem manual de instruções e a única certeza é a morte, mas enquanto elas não aparece, qual caminho tomar? Onde ir? O que fazer? Alguém em algum lugar deve ter a resposta, mas espere, eu tenho a resposta ... hummmm ... melhor que não, mas espere, tenho outra resposta ... hummmm, será? Não, melhor que não. Amanhã pensarei nisto novamente ... não, espere, eu já sei ... hummmm ... não vai dar certo. Quem sabe quando eu encontrar coma  felicidade saberei a resposta? É isto!!!! Encontrar com a felicidade. Mas ... onde mas a felicidade? 

É isto aí!


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