quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Quino - um herói do mundo da resistência

 


Gratidão, Quino!!! Você semeou a esperança e a liberdade na minha vida.

Sua obra mais famosa, Mafalda, publicada entre os anos 1964 e 1973, questionava todos os problemas políticos, de gênero, e até científicos que afligiam sua alma infantil e, ao mesmo tempo, refletia o conflito que as pessoas da época enfrentavam, sobretudo com a progressiva mudança dos costumes e a já incipiente introdução da tecnologia no cotidiano.

É isto aí!

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Então é isto (Paulo Abreu)


Não é todo dia, 

mas tem dia 

que o que mais queria 

era não ter saudade, 

ou então ter um botão

liga/desliga/liga/desliga

queria também desgostar

desamar, desarticular o ar

que inspiro adocicado

pelo ar que expira de você

Não é todo dia,

mas hoje queria,

ah, sim! queria muito

que fosse minha mandala,

e deixasse fluir os deuses..

Jung fazia uma analogia 

entre a mandala sânscrita 

e os três níveis de consciência .

O ponto central seria o self, 

a essência do nosso ser, 

do qual tudo converge ou irradia. 

As primeiras figuras 

seriam o inconsciente pessoal e, 

as bordas mais afastadas seriam 

o inconsciente coletivo.

Assim a teria em três níveis

onde hoje não possuo nenhum.

a não ser a saudade

que dói todo dia.

É isto aí!

Capela Magnificat - Um poema de amor a Jesus Sacramentado - BH - Minas Gerais

 Localizada na Alameda Serra da Mantiqueira, 1051 -- Condomínio Vila Del Rey -- município de Nova Lima, residência do Sr. Raymundo Lopes. Neste privilegiado local, além dos diversos eventos religiosos ao longo do ano, temos a celebração da Santa Missa aos domingos, às 17 horas, autorizada pelo Arcebispo Dom Walmor e atualmente presidida pelo Pe. Domingos.

A primeira Missa celebrada nesta Capela foi em 15/08/1978 (terça-feira), pelo Pe. Enemésio Angelo Lázzarez, quando ainda funcionava no interior da residência. Ao longo destes 20 anos da Obra Missionária, ela foi passando por algumas modificações e ampliações, tendo na atualidade uma área total aproximada de 86 m². Seu interior abriga diversos objetos que compõem sua bela ornamentação, sendo toda ela de inspiração e do bom gosto do Sr. Raymundo Lopes. Constam ainda em seu acervo diversos detalhes que fazem parte dos sinais deixados pelo Céu, por ocasião das manifestações ao Sr. Raymundo Lopes. Entre estes, está o Cristo que verteu óleo, a Nossa Senhora da Parede, o Corporal, Nossa Senhora do Trajeto, o belo altar de Nossa Senhora da Assunção, a cadeira onde se assenta Nossa Senhora em certas aparições ao Sr. Raymundo Lopes, entre vários outros. Isto, sem falar do lindo altar-mor, onde se encontra o Sacrário.

A Capela Magnificat permanece aberta das 07:00 às 19:00 horas, com fluxo diário de várias pessoas. Quem zela com todo o cuidado pela ornamentação e limpeza da Capela é a Sra. Irene Josefa, conhecida carinhosamente por Bá.

Música 1

Genuit puerpera regem - Antífona y Salmo 99 (Modo II) (Remaster

Artista - Coro de Monjes del Monasterio de Silos

Álbum - Canto Gregoriano (Edición remasterizada 40 Aniversario)

Licenciado para o YouTube por

WMG (em nome de PLG Spain); Muserk Rights Management, LatinAutor e 2 associações de direitos musicais

Música 2

Ave María Modo I

Artista - Coro Ultreia

Álbum - Canto Gregoriano

https://www.youtube.com/watch?v=F3ZsB3RM1bI



sábado, 26 de setembro de 2020

Você não quer saber



- O que aconteceu com você?

- Onde estou?

- Você foi encontrado desacordado, nu e com sinais vitais fracos, na avenida, em frente à prefeitura. Do que você se lembra?

Lembro-me vagamente de ter caído, tudo ainda está confuso. Estava num banco da praça, e não reconheci mais o lugar depois de sentir a necessidade de fechar os olhos e abri-los uns dois minutos depois, acho. Resolvi sair dali, mas mal levantei, um homem imenso sentou-me abruptamente. Coisa mais doida, mais esquisita, mais estranha, mas aconteceu. Vi a vida passando como num filme 3D, vi os amigos, vi meu grande amor, vi a casa onde nasci, vi as ruas descalças, a vila paupérrima, vi a mudança para a cidade, a fome, a miséria, a desolação, vi muita coisa que não lembrava e algumas coisas que gostaria de ter esquecido.

Aí cheguei, não sei como, numa sala ampla, numa fila silenciosa, quando percebi que só eu estava de roupa e as dezenas de pessoas presentes estavam nuas. Olhei para frente, olhei para trás, cutuquei uma moça lindinha e perguntei por que ela estava nua. Olhou para mim assustada e respondeu - eu ia perguntar a mesma coisa, porque só eu estou vestida e todos nus, inclusive você. Ela cutucou o próximo, eu o anterior e a resposta foi a mesma.

Cheguei num guichê alto, onde só conseguia, muito mal ver o atendente. Era um ..., gente, era um anjo, daqueles de cabelos cacheados e pele brilhante. Olhei para trás para ver se mais alguém via o anjo e descobri que estava só diante do guichê. Voltei os olhos para o anjo, e cadê? Não tinha mais nenhum anjo. Tinha uma senhora, elegante, mas bem idosa, de óculos Pince-nez e cabelos partidos ao meio e olhar cândido.

- Nome completo, data e local de nascimento e nome dos pais.

- Não lembro. Aliás, que lugar é este?

- Segurança - favor comparecer ao Guichê 6GT784K.

Vieram dois sujeitos de cara boa, sorridentes, cada um me pegou com uma força descomunal em cada braço, levaram até uma porta, aberta por um anão de olhos arregalados, e ao abrir, colocaram-me num elevador imenso, devia ter uns, sei lá, uns 20m². A porta fechou, zummmmmmmmmm, e foi isto.

Enfermeira, encaminha o paciente à ala GT47.

- GT47? Que nome de ala estranha, enfermeira. Tem explicação?

- Tem ..., aí ela parou de empurrar a maca, e me beijou alucinadamente. Daí, depois do beijo, ao abrir os olhos, estava num campo aberto, florido, vi uma moça linda, conhecida, ao longe. Corri muito para alcança-la, tropecei e daí só sei que parei aqui. Mas onde estou?

- Você não quer saber. Feche os olhos e continue sua viagem. 

É isto aí!





sexta-feira, 25 de setembro de 2020

No meio do caos eu amo você!


No meio do caos eu amo você!

Há violência por todas as partes, 

por todas as certezas, 

por todos os vícios, 

por todas as mortes, 

por todas as lágrimas, 

por todos os portes de armas brancas, 

armas de palavras, mídias e afins 

armas....explodem violentas

No meio do caos eu amo você! 

e também padeço como todos

seres mortais na carne 

e àqueles mortais na alma

que explodem a violência

por todas as memórias

por todas as glórias

por todas as histórias

se armam, se armam, se armam..

e não amam, apenas dançam

a dança exótica da morte

sobre nós. 

No meio do caos eu amo você!

* Referência da imagem:
Cena do Filme - O Sétimo Selo (1956)  Ingmar Bergman

“A imagem da dança da morte sob a nuvem escura foi feita às pressas , pois naquela altura a maioria dos atores já deveria ter voltado para casa. Assistentes, eletricistas, um maquiador e dois hóspedes que não tinham ideia do que fariam tiveram de vestir-se com as roupas dos condenados à morte. Uma câmera muda foi montada e as imagens feitas antes que a nuvem desaparecesse” (in Lanterna Mágica, autobiografia de Bergman).

Super Inteligência: Música de Memória, Melhoria da Memória e Concentração


Greenred Productions - Relaxing Music



quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Este poema ridículo (Paulo Abreu)



Há dor nas palavras
em todas as sílabas
vogais e consoantes
quando a vida amarga

e ganha aquele gosto
de uma coisa estranha
meio insípida, meio palatável
meio insolúvel, meio nada.

Hão de advir dias bons
sem lágrimas e percalços
porque guardei seu perfume
na memória da saudade

Este poema tão ridículo
não era para nascer assim
opaco, tênue lume
mas há reversos fragilizados

doar, amar, aguardar
ou criar novos retornos
o retrovisor funde passado 
presente, sorriso e mágoas

Mas o futuro é espelho 
do seu rosto que reflete
a historia da alegria
do dia lindo que virá..

É isto aí!




segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O reencontro


Começou  a rezar do nada. Nunca ocorreu que aquilo era possível, falar com uma pessoa invisível e real. Mas do nada veio o sentimento. Ficou ali por tempo indeterminado, não se assustou ao perceber que anoitecera, então certificou-se que as horas passaram num tempo desconhecido. Levantou-se leve, sem fome, sem náuseas, sem a dor no peito, sem as pernas cansadas, sem o zumbido irritante nos ouvidos, sem o pigarro, sem dor alguma. 

Saiu com o corpo leve, mas onde era este ali? Não sabia. Achou engraçado, pois não reconhecera nada. Chegou à janela e percebeu que estava num edifício bem alto. Saiu daquele ambiente e entrou num extenso corredor, com muitas portas, mas sem número de identificação. Não encontrou nenhuma escada ou elevador. Resolveu abrir uma porta qualquer, e entrou num ambiente amplo, como um imenso salão. A porta silenciosamente fechou às suas costas, e à sua frente estava Lindinha, o grande amor de sua vida. Ela fez sinal com a mão, pedindo para segui-la e caminharam pela praia deserta, em silêncio, em paz, num sentimento único de amor- Lindinha estava ao seu lado. 

Pararam em frente à uma cabana tosca, Lindinha abriu a porta e entrou. Seguiu-a mas ao abrir a porta, estava num quarto simples, espartano, na cama uma mulher em doloroso trabalho de parto, e ao seu lado uma outra mulher mais velha. Olhou as duas, assustou-se pela primeira vez. Aquilo era real e surreal, tangível e indescritível.

Na cama, em agonia, estava sua mãe, e a parteira era a sua avó. A avó o puxou-o bruscamente e disse - ainda bem que você está aqui. Voltou-se para a filha, acabou de retirar a criança, entregou nos seus braços, e voltou os olhos aterrorizados para a parturiente em agonia, que faleceu logo após conceber o bebê..

Com sua criança no colo, aos prantos, abraçou-a fortemente, abençoou-a e disse - não tenha medo, eu estou aqui para dizer que nós vencemos. Fechou os alhos, e ao abrir estava novamente rezando da mesma forma que iniciara o tempo daqueles tempos. Abriu lentamente os braços aos céus, por que acreditava que eram muitos, e chorou de alívio, experimentando pela primeira vez uma paz que nunca conhecera.

É isto aí!

sábado, 19 de setembro de 2020

Cadê a pauta da Reunião?


 

Vamos começar a reunião desta tarde, obedecendo à pauta já previamente enviada e aprovada por todos. Geraldinho está com a mão levantada. Pode falar, Geraldinho.

- Chefe, eu desconheço a pauta.

(Tapa na mesa) É sempre esta merda. e-mail é para ser lido. Dona Martha, eu quero o e-mail projetado agora no data-show, para verificar se o sr. Geraldinho recebeu e não leu ou não recebeu. Porque se recebeu e não leu, o pau vai comer.

- Dr. Fernandes ...

(Olhou com raiva) Pois não, Dona Martha...

- Dr. Fernandes, o senhor não provisionou os recursos para adquirirmos outro data-show, já que o anterior sofreu um incêndio por curto-circuito devido à uma sobrecarga do sistema de distribuição. 

(Tapa na mesa) Por isto esta merda não funciona. Por isto democracia é a desgraça da humanidade. É lógico que aprovei.

- Dr. Fernandes, está aqui seu bilhete escrito em letras grandes, que "não vou liberar caralho nenhum de dinheiro para comprar data-merda enquanto a porra da manutenção não der um jeito de melhorar esta distribuição de rede e ampliar o quadro, senão vamos continuar usando dois tês por tomada nesta merda de escritório".

(Contido e vermelho) É um absurdo uma coisa destas, Dona Martha, a senhora foi enganada, isto é esta porra de fake-news que os comunistas do sindicato, infiltrados nesta empresa, que eu sei,  inventaram para me difamar. E chama aquele cafajeste do Jasinho, aquele bosta da manutenção elétrica.

- Dr. Fernandes, desculpa, mas o senhor demitiu todo o setor de manutenção para redução de despesas, conforme este memorando onde o senhor disse: "Determino a demissão imediata de todos os funcionários da manutenção, pois não passam de agentes comunistas fantasiados de técnicos, vagabundos safados e arrogantes. Vou fechar esta porra e terceirizar para quem quer trabalhar de verdade".

(Cerrando os dentes) Dona Martha, eu jamais escreveria uma coisa destas. A prova cabal é que se tivesse demitido o quadro funcional da manutenção, os terceirizados já estariam aqui.

- Dr. Fernandes, desculpa, mas o senhor se recusou a pagar a primeira parcela do contrato, conforme este bilhete que anexou ao memorando que lhe enviei - "não vou pagar porra nenhuma para estes comunistas safados, afinal não fizeram nada e querem ficar ricos à minhas custas". Só para constar, entraram na Justiça para receber o valor integral por quebra de contrato pelo contratante.

(Explodindo) Puta que o pariu, estou cercado de comunistas e incompetentes. Dona Martha, chama o Dr. Alfredo do Jurídico aqui, agora.

- Dr. Fernandes, conforme bilhete que o senhor enviou ao RH, aqui anexado - "Ao RH, manda aquele merdinha do Doutorzinho Alfredo para o olho da rua, antes que eu perca a paciência. Detesto comunistas".

Dona Martha, demita agora o Geraldinho por falto de decoro laboral  e assim que terminar, venha à minha sala. Vamos dar uma limpa nesta empresa, está cheia de comunistas. Está encerrada esta porra de reunião.

É isto aí!


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Som para estudar, concentração, eliminar o cansaço e a sonolência...



Atenção - É necessário utilizar fone de ouvido, um em cada orelha - As frequências estão separadas entre o lado esquerdo e o lado direito. É a diferença entre as frequências que atua no cérebro.

Ondas binaurais, ou batidas binaurais, são frequências sonoras distintas emitidas para cada um dos ouvidos simultaneamente, cada som independente possui uma frequência de algumas centenas de Hertz. Porém, seu cérebro irá interpretar apenas a diferença entre essas frequências e se sincronizar com ela. A diferença entre as frequências nas ondas binaurais mais comuns varia de 0,5 a 20 Hz, cada faixa obtida entre esses valores têm características e benefícios específicos. 
O vídeo abaixo traz ondas do tipo beta com uma frequência de 20 Hz. Quando as ondas cerebrais humanas estão em estado beta significa que o estado de alerta e a velocidade de processamento da informação estão no nível máximo. 
Use binaural beta para estudar, trabalhar e exercer qualquer atividade na qual você precise de atenção, foco, disposição intelectual e criatividade. 

Quer saber mais sobre este assunto: 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Classificados das Letras



Classificados das Letras

Indústria de Palavras em plena expansão contrata revisor de letras. Tratar com Profª Laudelina Glossária, na Rua A, 88B, Bairro das Vírgulas

Alugo Parônimas para casos judiciais, trabalhistas e conjugais. Garantimos a imparcialidade e fidelidade. Tratar com Procedente Dúbio, na Galeria Mata-Mata, Loja 88C.

Distópicas Vende-se pelo melhor preço um conjunto vintage de palavras distópicas. Dou referências de origem ou não, nunca se sabe ao certo. Tratar com Perfídia Inocência, no Cabaret Voltaire da Avenida Disruptiva, 88N, Centro.

Homofonias Atacado e Varejo de Homofonias. Não atendo Versos Brancos, gentileza não insistir. Tratar com Mário-que-Mário, Rua do Armário, 88J.

Vendo rimas usadas em bom estado de conservação. Tratar com Madá da Lena, Travessa da Lua Cheia, 88T. Dispenso curiosos:
Rimas Externas Cruzadas R$10/par
Rimas Externas Interpoladas R$20/par
Rimas Emparelhadas R$12,50 cada
Rimas Encadeadas R$15,00/par
Rimas Misturadas R$7,50/par
Rimas Internas R$22,90/par

Crases Vende-se e/ou aluga-se Crases. Tratar com AAlfabeta AArs. Rua das Borboletas, 88G.

É isto aí!

Insônia (Fernando Pessoa)


Não durmo, nem espero dormir.

Nem na morte espero dormir.

Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.

Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.


Álvaro de Campos, in "Poemas"

Heterónimo de Fernando Pessoa


Fonte da imagem: Learning Mind

domingo, 13 de setembro de 2020

O Mago da Pitangueira (setembro 2020)

Neste dias subi o Monte da Contemplação para aprender com o Mago da Pitangueira, que não se trata de um mago destes que fazem magia, mas sim de uma longa linhagem onde o título que o designa origina dos sacerdotes zoroastristas. Subi com o coração apertado, cheio de dúvidas. Mas como sempre ele provoca as perguntas.com respostas que exigem uma profunda reflexão.

- Mestre, o que nos espera 2021?
- Meu filho, não é o tempo que passa por nós. Somos nós que passamos pelo tempo. 2021 não espera ninguém. Ele está lá como o amanhã também está, e você passará por ele.

- Mas, Mestre, e as catástrofes, e as tragédias, e as dores do mundo?
- Veja, uma doença não aparece do nada, ela primeiro foi desejada de forma consciente ou inconsciente. Há uma história natural para ser e existir. Todo efeito sobreveio de uma causa. 

- Desculpe minha ignorância, Mestre, mas não entendi.
- Não é só você, rapaz. O mundo todo foi sendo envenenado dia após dia, de todas as formas, de todos os jeitos, de todas as seduções possíveis, e aqui não falo da prostituição e das drogas, falo de um mal maior, que vai além do prazer rápido proporcionado por estes meios. O mal real, o mal tangível, fonte inesgotável de dor.

- Mestre, o fim destes dias de confinamento estão acabando?
- Meu filho, o veneno está tomando seu cérebro, seus olhos e seus ouvidos. Qual o fim das reses depois de um confinamento? Pense! Nada de novo há sob o sol. O mundo como conheceu terá em breve um novo céu e uma nova terra - Maktub. E estes tempos chegaram.

- Mestre, como posso salvar minha vida, meus familiares, meus amigos? Para onde ir? O que fazer? Qual o lugar seguro?
- Lugar seguro? Rapaz, o único lugar seguro agora está dentro do seu coração. O que está feito, está feito. As engrenagens do "perpetuum mobile" foram postas em movimento, nada mais o detém. A ciência sempre negou esta possibilidade e ela está aí para todos verem e os tolos admirarem.

Voltei para casa achando o mundo menor, estranho e bizarro. 

É isto aí!




 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Hoje bateu saudade de tudo


Saudade daquela baianidade nagô espalhando gente feliz e cantando, se encontrando, sol chuva vento e mar de Salvador. Saudade de um chopp no Leblon, saudade até da Savassinha de Divinópolis fim de tarde, saudade da Ilha de São Francisco em Santa Catarina, saudade de ser moleque de bodoque e pedra de seixo, saudade de um mundo que acabou.

Saudade de Belo Horizonte, de Juiz de Fora, de Vitória, de Porto Seguro, Ilhéus, Governador Valadares. Saudade de mim quando eu não achava que um dia teria saudade de tanta coisa assim. Saudade do Maurício, da Judith (muita saudade), do Luiz que partiram tão depressa, saudade do meu pai, saudade ...

Estou ficando cansado, esta coisa coisando tudo, e o coiso coisando nossas vidas como se a gente fosse agentes do mal contra a goiabeira santa. Saudade é a palavra que tenho hoje, meu amigo leitor, minha amiga leitora, que vem aqui todos os dias ver como está o reino.

O reino da Pitangueira está em crise de saudade. Saudade da minha filha que mora fora, saudade é um dom, deve ser isto.

Como escreveu e compôs o poeta Evandro Rodrigues em Baianidade Nagô:

Eu queria
Que essa fantasia fosse eterna
Quem sabe um dia a paz
Vence a guerra
E viver será só festejar

Baianidade Nagô
Compositor Letra e Música: Evandro Rodrigues
Música: Baianidade Nagô (Ao Vivo)
Artista: Axé 90 Graus
Licenciado para o YouTube por
SME (em nome de Sony Music Entertainment); UMPG Publishing, UNIAO BRASILEIRA DE EDITORAS DE MUSICA - UBEM, LatinAutor, LatinAutor - UMPG e 1 associações de direitos musicais

Já pintou verão
Calor no coração
A festa vai começar
Salvador se agita
Numa só alegria
Eternos Dodô e Osmar

Na avenida sete
Da paz eu sou tiete
Na barra o farol a brilhar

Carnaval na Bahia
Oitava maravilha
Eu nunca irei te deixar ... meu amor

Eu vou
Atrás do trio elétrico vou
Dançar ao negro toque do agogô
Curtindo a minha baianidade nagô

Eu queria
Que essa fantasia fosse eterna
Quem sabe um dia a paz
Vence a guerra
E viver será só festejar

Já pintou verão
Calor no coração
A festa vai começar
Salvador se agita
Numa só alegria
Eternos Dodô e Osmar

Na avenida sete
Da paz eu sou tiete
Na barra o farol a brilhar

Carnaval na Bahia
Oitava maravilha
Eu nunca irei te deixar ... meu amor

Agora voa, voa, 
voa Farol da Barra
Voa lá!

Eu vou
Atrás do trio elétrico vou
Dançar ao negro toque do agogô
Curtindo a minha baianidade nagô

Eu queria, diz!
Que essa fantasia fosse eterna
Quem sabe um dia a paz
Vence a guerra
E viver será só festejar

Fonte: Musixmatch
Compositores: Evandro Elias Souza Rodrigues
Letra de Baianidade Nagô © Universal Mus. Publishing Mgb Brasil Ltd

domingo, 6 de setembro de 2020

Dura lex, sed lex


 

DIÁRIO OFICIAL DA PITANGUEIRA

Publicado em: 06/09/2020 | Edição: 01| Seção: 1 | Página: 1

Órgão: Atos do Poder Imperial Monocrático e Democrático 

LEI Nº 001 DE 05 DE SETEMBRO DE 2020

Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da Saudade 

EU, O ESTADO DO REINO DA PITANGUEIRA

Faço saber que decreto e eu sanciono a seguinte Lei:


Art. 1º Esta Lei dispõe sobre as medidas que poderão ser adotadas para enfrentamento da Saudade.

§ 1º As medidas estabelecidas nesta Lei objetivam a proteção da Alma, da Mente, do Corpo e do Espírito.

§ 2º Ato de Fé e Crença disporá sobre a duração da situação de Saudade de que trata esta Lei.

§ 3º O prazo de que trata o § 2º deste artigo não poderá ser superior ao declarado pela pessoa portadora da Saudade.


Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:

I - isolamento: separação de pessoas, de maneira a favorecer a propagação do sentimento objeto da Lei;

II - quarentena: restrição de atividades em decorrência da separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam com Saudade, de maneira a evitar a possível contaminação ou a sua propagação.

Parágrafo único. As definições estabelecidas pelo Artigo 1 do Regulamento Passional Internacional, constante do Anexo ao Decreto nº 02.203, de 30 de janeiro de 1920, aplicam-se ao disposto nesta Lei, no que couber.


Art. 3º Para enfrentamento da emergente Saudade, poderão ser adotadas, entre outras, as seguintes medidas:

I - isolamento;

II - quarentena;

III - determinação de realização compulsória de:

a) livros do Paulo Leminski, Jorge Luis Borges, Gilles Deleuze e Machado de Assis.

b) evitar testes de inteligência emocional;

c) não coleta de amostras de que já foi feliz;

d) Medidas profiláticas simples ou radicais,

e) Não fazer algo quando não quer fazer algo e não fazer quando beber;

§ 1º As medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências de pensamentos fixos e sonhos constantes e em análises sobre as informações estratégicas em Saudade e deverão ser limitadas no tempo e no espaço ao mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde mental.

§ 2º Ficam assegurados às pessoas afetadas pelas medidas previstas neste artigo:

I - o direito de serem tristes quando quiserem;

II - o direito de receberem o respeito e a compreensão universal e gratuita;


Art. 4º Esta Lei vigorará enquanto perdurar o estado de Saudade;


Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Reino da Pitangueira, 6 de Setembro de 2020; 10º da Independência da República.


É isto aí!


Mirante da Proa

 

Do mirante da proa
em mar aberto
medo medo medo
a nau vida segue 

do Tejo ao São Francisco
do Sena ao Ipiranga
do Tâmisa ao Amazonas
há o salgado mar  

tempo tenso. 
ondas revoltas 
cada vez mais altas 
mau presságio...

Mundo estranho
amarguras
tudo estranho
tantas censuras

Bocas seladas
olhos fechados
tudo escuro
legado de dor

nada será como antes
disse o poeta
imortalizou o cantor
e seguimos neste navegar

Do mirante vê-se terra batida
passos confusos
olhos tristes
e almas traspassadas.


É isto aí!






sábado, 5 de setembro de 2020

Você é linda!


Sentiu a dor, 
misto de saudade sem fim, 
com a angústia da falta,
da perpétua ausência.

Pegou uma folha sem pauta, 
tamanho ofício,
traçou um rosto feminino.
e esboçou ar destemperado.

Riscou um par de olhos tristes
amendoados e caramelados
um nariz fino arrebitado
cabelos lisos e tez delicada

Numa projeção nostálgica
nascia a face incerta
olhos mareados a fitavam
estática na memória



É isto aí!



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Astor Piazzolla LIBERTANGO - Raíssa Amaral



Nasceu em 29 de maio de 1992, é graduada, mestra e doutoranda em música com habilitação em canto lírico e práticas interpretativas (análise e performance) pelo Instituto de Artes da Unicamp, onde teve como orientador o Prof. Dr. Angelo José Fernandes.

Ainda pela Unicamp, se formou em cordas popular sob a orientação de Ulisses Rocha. Ainda estudou violão clássico com Sergio Napoleão Belluco e piano com Dna. Cidinha Mahle.

Por muitos anos foi integrante do Coro de Câmera de Piracicaba, atuando como solista, sob regência do maestro Ernst Mahle, e do Coro Contemporâneo de Campinas, sob regência de Angelo Fernandes.

Com o Ópera Studio da Unicamp atuou nas óperas de Mozart “Don Giovanni” no papel de Donna Anna (sob regência de Abel Rocha, em comemoração aos 50 anos de Unicamp), “Die Zauberflöte” como Pamina, “Le Nozze di Figaro” como Condessa de Almaviva e em “Der Schauspieldirektor” como Mademoiselle Silberklang. Em “Dido and Aeneas” de H. Purcell, interpretou Belinda e foi Adina em “L’elisir d’amore” de Gaetano Donizetti.

Protagonizou Carolina em “A Moreninha”, ópera de Ernst Mahle sob regência do próprio autor. Na temporada de 2016, no Theatro de Ópera São Pedro, entre os vários trabalhos destaca-se a estréia paulistana da ópera “O Anão” de Alexander von Zemlisky, onde atuou como Ghita.

Em 2017 foi solista em “Valsas Vienenses” com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob regência do maestro Silvio Viegas, no Grande Teatro Palácio das Artes, Fundação Clóvis Salgado, onde também encerrou o ano com o ‘Messias de Haendel”.
Também em 2017 apresentou “O Messias”, sob regência do Maestro Roberto Minczuk, com a Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Paulistano no Theatro Municipal de São Paulo.

Em 2018 abriu a Temporada do Theatro Municipal de São Paulo, no papel de Mater Gloriosa da Sinfonia n° 8 de Gustav Mahler. Está protagonizando Bastiana na ópera “Bastião & Bastiana” de Mozart, em escolas públicas do Estado de São Paulo, no projeto interativo “Ópera Na Escola”.

Pelo Ópera Studio da Unicamp 2018, no Teatro de Paulínia, interpretou Violetta, em “La Traviata”.

Foi colunista sobre música brasileira no Jornal B&B Brasileiras Brasileiros, da Flórida e dedica-se a um trabalho de acervo cultural sobre a história da música.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Encontros pré-nupciais furtivos

Onde estou?

Não interessa.

A senhora é quem?

Uma amiga de uma amiga de uma amiga.

E você, agora que já fomos apresentados, qual o seu nome?

Zé Jardim do Pomar das Laranjeiras

Este é seu nome mesmo?

Sim e não.

Como assim?

Assim sou chamado e conhecido, senhora.

Você trabalha com jardinagem?

Não exatamente, quer dizer, trabalho, tipo assim, mais ou menos.

Você tem uns extratos de contas bancárias, aqui nas minhas mãos, muito interessantes. Pode explicar sua movimentação financeira nos últimos quatro anos?

Como a senhora conseguiu estes extratos?

Lembre-se, sou amiga de amigas. Mas estes extratos falam a verdade?

Sim e não.

Como assim?

Sim, com certeza tem uma explicação, mas não sei qual.

Você consegue explicar o patrimônio que possui?

Sim e não.

Como assim?

Eu moro onde nasci e o resto foi sendo plantado e crescendo aqui e ali.

Plantado? Como assim?

O doutor dizia que eu tinha um jardim tão fértil, que dava para plantar de tudo.

O doutor..., que doutor???

Aquele que mora naquele lugar, que trabalha naquele negócio.

Aquele? Estamos falando da mesma pessoa?

Sim, senhora.

Antes de ir, só para confirmar, vejo que você é solteiro.

Estou dispensado?

Sim, mas antes saiba que esta conversa nunca ocorreu, eu nunca estive aqui e nunca conversamos, mas ser solteiro com esta renda??? hummm, acho que volto..

Voltar? Com assim voltar? Isto não é um sonho?

Sonho de casar com você, querido...

É isto aí!


terça-feira, 1 de setembro de 2020

Coluna Social da Marquesa - O Baile da Ilha do Governador


Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilh
Reino da Pitangueira 10 Agosto

Entre fogos e artifícios múltiplos, a metrópole que de fato interessa voltou em peso os olhos para a Baía da Guanabara, literalmente cercada pelas memórias do sargento de milícias e seus simpáticos guerreiros tamoios, que chamam os transoceânicos de Akari, ou seja, de Cascudos. 

O crème de la crème, para deleite da choldra e alegria dos akaris da mais alta corte, fez badalada e festiva comemoração de mais uma conquista de domínio de espaços espirituais, digamos assim. A última barricada demolida deu-se pelo cerco à Ilha do Governador, dominada pela tribo dos temiminós. 

Os exóticos temiminós, depois da barricada monocrática, abandonaram a ilha, supostamente de maneira pacífica e compulsória, a bordo um navio de afogados que passava pelo local e se mudaram com mala e cuia, provisoriamente, para um local incerto e não sabido, fugindo aos ataques tupinambás.

No frigir dos ovos, segundo o líder dos Akaris, quem nasceu para timiminós nunca chega às cariocas, ou seja, à oca dos akaris. Enfim, sardinha que acompanha tubarão acaba sempre de tira-gosto.


Coluna Social da Marquesa/Direito de Resposta
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 17 Agosto

Timimimós o cacete. Voltaremos e toda a Baía será nossa. 


Coluna Social da Marquesa/Ouvindo a outra parte
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 24 Agosto

Marquezina, gostei muito desta porra de carijós X mimimi. Como se disse eu a mim mesmo em pleonástico movimento único, tamoios juntos. Akari tá bom agora. Só não agradei desta porra de Cascudo, não gosto de cascudo, bicho só vive do lodo, boquinha aqui, boquinha ali, sou alfa, Marquezina, sou alfa.

É isto aí!