quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Palavrões, usar ou não usar? (Millôr Fernandes)



Alto lá!!!
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei
Autor da Crônica:  Millôr Fernandes

São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.

Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"?

E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:

"Chega! Vai tomar no olho do seu cu!".

Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar:

"Fodeu!".

E sua derivação mais avassaladora ainda:

"Fodeu de vez!".

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:

O que você fala?

"Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.

"Não quer sair comigo? Então foda-se!".

"Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!".

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Papo de esquina - O estranho


Você se lembram daquele estranho que morava no Beco da Lavoura?

Rapaz, aquilo é que foi acontecimento. A moça que trabalhava lá na minha mãe era vizinha dele. Dizia que acordava pontualmente às 05 horas e 38 minutos. Fazia uma pequena reflexão sobre a vida e caminhava no escuro ao banheiro, sempre contando os passos para certificar de que estava no lugar certo, pois às vezes seus preceptores e hierarcas celestiais o deixavam em outro local. Já ocorrera de acordar em varias partes do planeta e até em outro planeta; nestes casos dormia novamente e reacordava em casa. 

Após o banho, abençoava o Óleo de Melaleuca e ungia a si mesmo com o sinal Alfa e Ômega, na testa, sobre as sobrancelhas, sempre o Alfa sobre a sobrancelha direita e o Ômega sobre a sobrancelha esquerda. Após esta unção de abertura da mente, benzia a Água de Rosas (colhidas no sereno, em noite de lua nova), entoava um cântico ofertando aos seres celestiais a sua santidade e aspergia por sobre a cabeça, sobre a fontanela anterior, para despertar os seres benignos que habitavam seu coração. 

Vestia sua calça branca de algodão cru alvejado, bem como a bata. Por sobre a cabeça um turbante revestido com papel alumínio, justaposto bem enlaçado, cuja finalidade era não perder seus pensamentos e guardar suas percepções do mundo só para si. Sandálias de couro cru completavam o vestuário espartano.  

Após o desjejum, jogava os dois dados sobre um veludo negro, até dar sequência dupla de soma Sete. Cada possibilidade, sua sequencia e a ordem na qual caia, 6/1, 5/2, 4/3 tinha uma leitura, assim poderia prever quais os eventos que o aguardariam no decorrer daquele dia.

E quando saia, então? Caminhava para a porta, tocava a sineta três vezes, abria e tocava outras quatro ao fechar. Como sua casa fora construída no sentido Norte/Sul, onde Sul era a porta da entrada e o Norte a porta dos fundos, sabia exatamente que à sua esquerda estaria o Leste e à sua direita o Oeste. Desta forma, fazia o ritual de percepção energética. Erguia a mão direita espalmada para o Sul e aguardava as vibrações planetárias. A seguir erguia a mão esquerda espalmada para o Oeste e fazia também a leitura das vibrações energéticas vindas daquele ponto cardeal. Com isto determinava a frequência mais positiva e seguia neste rumo.

Fazia sua jornada sem olhar para os lados e conversando incessantemente com seus amigos não visíveis nesta dimensão. Dava a volta em duas quadras à frente que o levava na  Praça da Matriz. Sentava no mesmo banco e contemplava o vazio por três horas até que um dia, enquanto meditava subiu numa escada neon aos céus à vista de todos, boquiabertos, estupefatos e abestalhados.

É isto aí!


terça-feira, 23 de agosto de 2022

Só uma oração (Caio Fábio)

Só uma oração (Caio Fábio)

Cada um aqui, cada um 
- significando você - 
é amado, é amada. 

Parece uma coisa estranha 
de que o que eu nunca vi me ama, 
mas é também aquEle que você nunca viu, 
que te criou. 

É aquEle que você nunca viu 
que criou todas as coisas! 
E que é percebido, 
 também, por meio das coisas que foram criadas. 

Ele ama você, 
e todas as coisas existem, também, 
 como manifestação desse Amor, 
em meu favor, em seu favor. 

É água, é pão, é comida, 
é semente que brota do chão, 
 é flor, é cor, é luz, 
é tudo quanto seja necessário à nossa vida, 
 que nos cerca, e que está à nossa volta. 

Obrigado, Senhor, 
porque existir, 
 para quem caminha com fé, 
 esperança e amor, é um ato de treino, 
de melhoramento da consciência, 
de chance de superação 
da nossa própria pequenez, 
e de projeção do nosso espírito 
para dimensões mais elevadas.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Alma Gêmea


tudo que queria
era estar no lugar
onde deveria estar
e encontrarem-se
numa alameda florida

é dezembro
a chuva lavou as ruas
as árvores, as calçadas
vento folhas vendavais
desejo alvejo perene

olhar profundo no
ar transcendente a
expressar na alma
a alma gêmea e
o pacto celestial

abraçar no silêncio
o cafuné no cabelo
o afago na face
polegar deslizando os lábios
e o beijo selando a paz

Fonte da imagem: Vecteezy/Sandro Lima

É isto aí!

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Ho’oponopono (Sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato)


Sinto muito
Me perdoe
Eu te amo
Sou grato

Já falei do Ho’oponopono uns dois anos atrás, mas deu vontade de postar de novo sobre ele. A simples repetição dessas qutro frases é capaz de ativar a liberação de bloqueios, lembranças negativas e traumas para que você assuma um controle mais tranquilo sobre o próprio corpo e a própria vida. 

Em suma, é possível afirmar que o ho’oponopono é um processo de solução de problemas, que deve acontecer inteiramente dentro de você.

A palavra “ho’o” significa “causa” em havaiano, enquanto “ponopono” quer dizer “perfeição”. O termo “ho’oponopono” pode ser traduzido como: “corrigir um erro” ou “tornar certo”.

Trata-se de uma prática que não requer muitos ensinamentos, mas é poderosa para purificar o próprio corpo e se livrar de memórias ou sentimentos ruins, que prendem a mente em uma sintonia negativa. 

O termo se tornou conhecido a partir de uma experiência vivenciada pelo terapeuta e professor, Ihaleakala Hew Len. Por mais inacreditável que a história possa parecer, este homem conseguiu curar um pavilhão inteiro de criminosos que sofriam de doenças mentais no Havaí, sem sequer conversar ou interagir com nenhum deles. 

Por meio da análise das fichas de cada paciente, o terapeuta aplicava as palavras-chave do ho’oponopono, e a repetição da técnica mudava o seu estado de espírito. Consequentemente, a atividade mental dos detentos também se alterava.

Fonte do texto: zenwellness
Fonte da imagem: Lappui

domingo, 14 de agosto de 2022

Bem aventurados sejam os pais


Benditos sejam todos os pais
que abraçam seus filhos e filhas
que beijam seus filhos e filhas
que se doam aos seus filhos e filhas

Benditos sejam todos os pais
que amam seus filhos e filhas
que abençoam seus filhos e filhas
que sorriem com seus filhos e filhas

Benditos sejam todos os pais
que brincam com seus filhos e filhas
que educam seus filhos e filhas
que honram seus filhos e filhas

Benditos sejam todos os pais
que são o passado dos seus filhos e filhas
que são o presente dos seus filhos e filhas
que são o futuro dos seus filhos e filhas
 
Benditos sejam todos os pais
que abençoam seus filhos e filhas
que oram por seus filhos e filhas
que ensinam o bom caminho aos seus filhos e filhas

Bem aventurados sejam os pais
que são amigos dos seus filhos e filhas
que os amam com ama a si mesmo
que os perdoa e por eles é perdoado

Bem aventurados sejam os pais
que ensinam a verdade aos seus filhos e filhas
que ensinam o caminho do amor aos seus filhos e filhas
que dignificam a vida dos seus filhos e filhas

Pois estes herdarão os reinos dos céus
conviverão com anjos e santos
e por toda a eternidade serão pais
assim na Terra como no Céu

É isto aí!


quarta-feira, 10 de agosto de 2022

A vida não é um conto de fadas.


Chegou ao fundo do poço. Deixou para trás a família, o casamento, a empresa, os amigos, o clube, a casa na praia, o sítio e Maristela, o amor da sua vida, que o abandonou assim que entrou no poço. Logo logo percebeu que o poço era sem forma e vazio. A escuridão cobria tanto o alto quanto a parede que envolvia toda a estrutura.

Gritou por socorro e voz não saia. Levou a mão ao bolso e sacou o celular que estava descarregado. Tateou as paredes e nenhuma saliência dava-lhe o sentido de fuga. Agachou e começou a apalpar o piso. Foi uma ação instintiva. Percebeu algo feito uma alça - eu sabia - graças ao meu instinto achei uma saída.

Puxou a alça e clanc, o piso se abriu e caiu em queda livre por pelo menos três anos, sem achar um gancho, sem perceber uma mão amiga, sem se agarrar a nenhuma saliência, até que a queda foi abruptamente interrompida por um piso macio no fundo. Achara o fim do poço. agora tinha certeza. Tateou as paredes e nenhuma porta dava-lhe o sentido de fuga. Agachou e começou a apalpar o chão úmido. Foi uma ação instintiva. Percebeu algo feito uma alça - eu sabia - graças ao meu instinto achei uma saída.

Puxou a alça e plact tchup, caiu num imenso tubo cilíndrico liso e escorregadio. Desta vez desceu rápido, mas ordenado, dentro de um tobogã cilíndrico, de modo que sentia o deslocamento, via a luz, mas não tinha onde se apegar. Levou uns dois anos nesta viagem louca. A velocidade foi diminuindo até parar sobre um banco de areia. Pela primeira vez depois de anos viu estrelas e deitou para descansar daquela maratona de poços e quedas.

Acordou e o dia já ia pela metade. Percebeu-se num imenso deserto. Por instinto iria tomar a rota norte, conforme aprendera na infância, achando o sol, a sombra, etc. Refletiu com sua solidão que toda vez que se viu diante de um poço, agiu só com seus conhecimentos e instinto. Percebeu, finalmente, que seus conhecimentos foram inúteis para sair de uma crise. Sentou à sombra de si mesmo e aguardou alguém passar. Precisava de ajuda e estava disposto a ser ajudado.

Ninguém passou, o tempo passou e quatro anos depois veio a óbito, só e fraco, numa casa simples no meio do nada. Moral da História - a vida não é um conto de fadas.

Fonte da imagem: FALA!

É isto aí!