quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A mulher barbada e o lúpulo maconhado


Estava no Largo da Pitangueira, em momento de contemplativa degustação de puro líquido límpido e amarelo, servido preferencialmente gelado em torrentes tropicais. Minha formação de boticário permite-me levigar por entre brumas o lúpulo, a levedura e a cevada ali presentes.

Lembro do professor, em priscas eras, falando em tom baixo, quase sussurrando, que o lúpulo é uma planta da mesma família da maconha. Nossa, aquilo era o máximo, e com o detalhe de que a fabricação da cerveja exige que se utilize desta prima-irmã da erva maldita apenas a flor feminina, que é a única que cede uma resina dourada, aromática, de delicioso amargor. Impossível negar os devaneios da informação afrodisíaca, no auge da juventude.

Pensava sobre isto, sobre a Larissa Riquelme, uma índia tupy-guarany poranga (lindíssima na língua nativa), enfim, pensava sobre coisas triviais, sentado na calçada da fama.

Nisto passa Fulano, em andar apressado e descompassado. Chamo pelo nome - Fulano...e ele automática e bruscamente senta com a precisão suíça. E vai logo dizendo.

- Sabia que eu me separei?

- O que? Não diga! Pareciam feitos um para o outro (penso - ele como domador de feras e ela como a mulher barbada do circo).

- Pois é, depois de vinte anos...mas você não ficou sabendo?

- Eu? Não, não ouvi nada a respeito. (penso - Que cara de sorte, conseguiu separar de uma mulher chata demais da conta).

- É, já fazem bem uns dez meses...

- Que isto, vocês vão voltar, vai lá conversa com ela (penso - se fizer isto é um idiota).

- Não tem jeito, impossível, tentei, mas ela não aceitou a reconciliação.

- Mas e os filhos?

- Estão meio divididos, uns querem vê-la morta e os outros querem que fuja para a Síria...

- Rapaz, então a coisa é séria. Ela sempre foi beata de uma seita ultra-rigorosa, só andava de saias longas e camisas de manga comprida. Eu lembro disto..(penso - e não o respeitava nada, nem com os amigos, só ele não via.)

- Seríssima. Era tão séria que sexo para ela era uma coisa tão grave, que requeria certos cuidados. Mas imagine você que cheguei de viajem e ao entrar no quarto deparei com ela fazendo sexo com um boneco inflável.

- Bom, veja por outro lado - pelo menos não tem o risco de doença, e tecnicamente não é uma traição.

- É, refleti sobre isto, mas não foi tudo, descobri que fazia programas virtuais na internet.

- Rapaz, pense na virtuosidade disto, ela poderia estar compensando a sua ausência de uma maneira asséptica.

- É, mas não foi tudo, descobri que arranjou um amante de 78 anos.

- Fulano, isto talvez pode ser só uma compensação de uma relação mal resolvida com o pai, sem o ato carnal.

- É, mas no acúmulo das coisas bizarras eu percebi que não aguentava mais aquela situação, e saí de casa, e agora, sozinho, achei minha alma gêmea.

- Mas como se deu isto? Saiu assim e achou? (penso - Deve ser outro muquifo igual ou pior)

- É, aconteceu, nem sei explicar isto.

Chega à mesa um monumento do sexo feminino, uma deusa morena tipo Larissa Riquelme, ele levanta, se abraçam, se beijam, ela pede desculpas pela demora e saem pela via natural dos pedestres.

Quando estava uns cinco metros adiante, abraçado àquela criatura lindíssima, chamei - Fulano...eu queria te dizer que também já estou com raiva danada daquela mulher...

Maldito lúpulo maconhado que faz a gente falar umas bobagens deste tamanho!

É isto aí!










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