domingo, 8 de junho de 2014

Esquinas e contra-esquinas.

http://napiwhistler.cafeblog.hu/2014/02/ 

Souza era o poeta parnasiano da vila. Suspirava entre vielas e colunas pela amada distante, recitando Olavo Bilac em torrentes de paixão - mal a via e declamava:

"Olha: não posso mais! Ando tão cheio Deste amor, que minh´alma se consome De te exaltar aos olhos do universo..."

Stella era bonita, muito bonita, na realidade era linda. Nasceu e cresceu numa simplicidade espartana, tinha ares de nobreza e olhos de humildade, como dizia o Souza. Passava nas estreitas ruas arrancando sorrisos fáceis de toda a vizinhança - gente, tão linda e tão educada, que coisa, dizia o Souza.

Souza também dizia que o modo de Stella caminhar, ou estar parada em pé, indicava muito sobre a sua educação, além das dicas que fornecia para o conhecimento da sua personalidade e do seu estado de ânimo. Tinha uma postura natural e sem afetação, traduzindo sempre atenção e consideração às pessoas com quem interagia socialmente.

Foi Souza que sacou que Stella caminhava com o corpo disposto na sua posição natural de caminhar, a cabeça levemente inclinada para a frente, com o olhar posto alguns metros adiante, evitando tropeços e esbarros em pessoas e objetos e oscilava minimamente os quadris, sem as contorções do rebolado.

Certa vez Souza falou sobre o olhar de Stella. Dizia que ela, ao olhar à sua direita ou à sua esquerda, distribuía o giro progressivamente valendo-se em primeiro lugar do movimento dos próprios olhos. E ainda segundo Souza, dado o grande poder estético que tinha o modo de olhar de Stella, este movimento não era muito acentuado. 

Observe, dizia Souza, observe Stella em pé. Enquanto conversa, não se põe a balançar o corpo, para frente e para trás, nem apóia o corpo em apenas uma perna e estende a outra displicentemente para frente com o risco de fazer alguém tropeçar na ponta do seu pé. 

Após minuciosa análise, Souza descobriu como os músculos do rosto de Stella se contraiam suavemente para sinalizar sentimentos e significados. A sua expressão facial era suave e sempre ornada com um sorriso sincero.  

Stella nunca soube sequer da existência de Souza. 

É isto aí!


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