segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A porta suicida



Depoimentos:

- A Vítima:
Senhor Delegado, estando eu ainda no interior do habitáculo do meu reluzente DKW Sedan Vemag, modelo 1960, motor dois tempos, três cilindros e o consumo de 1 Litro de óleo 40W a cada 40 litros de Gasolina, com tração dianteira e roda livre nas banguelas, estava quase chegando para estacionar próximo ao Parque Municipal.

Ocorre, Doutor, que antes de ganhar o sentido da Travessa da Direita, passando pelo Largo da Catedral, indo em direção ao estabelecimento bancário, percebi de relance que os documentos necessários ao encontro reservado agendado com quinze dias de antecedência, com o gerente daquela instituição, não se encontravam onde deveriam estar.

Enquanto procurava freneticamente por entre os vazios interiores do veículo, deparei com este elemento aqui, presente ao lado, portador àquele momento de uma camisa de Tricoline, com 47% Poliester; 50% Algodão e 3% de Elastano, com tendência ao Verde Limão...

- O Delegado:
Como sabe disto?

- A Vítima:
Trabalho com Moda, Doutor, e conheço uma roupa baratinha de longe.

- O Suspeito:
Filho de uma puta...

- O Delegado:
 Calma, vai chegar a sua vez...

A Vítima:
E uma calça surrada, de brim indigo, destas que se encontram em feiras livres...

O Suspeito:
Vou dar uma porrada neste viadinho.

A Vítima:
Então, Doutor, o elemento suspeito veio ambulando rapidamente em rota de colisão lateral com meu DKW Vemag, cujas portas abrem em sentido inverso, daí a alcunha de portas suicidas. Andava abruptamente, em acelerada locomoção. Quando percebi, o meliante já estava bem próximo do veículo, daí o último grau de recurso foi fitá-lo severamente nos olhos, e guardar o seu aspecto fisionômico, para o caso de promover um crime contra  a pessoa e o patrimônio desta pessoa que vos fala a verdade.

A perceber que minha expressão severa era contraditória aos seus interesses nefastos, de forma inesperada deu uma volta de 180° em torno do seu próprio eixo e tentava evadir-se do local, como fosse possível ser honesto diante de tamanha demonstração clara de interesses escusos.

Daí, aproveitando o descuido deste violento ser social, abri de súbito a porta suicida da minha possante DKW Vemag modelo 1960, e fui ao encontro da sua região posterior, neutralizando-o com uma chave de braço, pois como sabe Vossa Excelência, a contenção de pescoço lateral vascular é um golpe muito potente.

Neste ínterim, transeuntes solidários, ouvindo meus gritos de apelo a um auxílio extra para conter tamanha fúria do meliante, conseguiram, com golpes sedantes, imobilizá-lo até a chegada da força policial.

O Delegado:
Sua vez de falar, Chico...

A Vítima:
Chico? Como assim? O senhor conhece este bandidinho a ponto de denominá-lo com uma alcunha?

O Delegado:
Claro, Chico é amigo de longa data e presta serviços esporádicos aqui para a delegacia...

A Vítima:
Puta que Pariu...

O Suspeito:
Doutor, eu estava passando, quando vi este viadinho tendo uma convulsão dentro daquela sucata que está lá fora. Como estava com um cheiro forte de óleo vindo do carro, resolvi aproximar rapidamente, pois achei que estava com princípio de incêndio, além do trimilique desta bichinha.

Ocorre que ao aproximar, assim que ele olhou para mim, parou com aquelas macacoas aflitas. Vi que estava tudo bem e resolvi voltar, pois o banco fecharia dali a cinco minutos.

O resto foi isto que esta coisinha aí falou.

A Vítima:
Pelo amor de Deus, piedade, perdão, desculpa, por favor, piedade, ai meu Jesus, valei-me São Jorge...

O Suspeito:
Como é que fica, hem Doutor?

O Delegado:
Olha só, Chico, vou dar uma saída para tomar um cafezinho, e vê se não quebra nada, daqui a cinco minutos eu volto...

É isto aí!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!