terça-feira, 29 de abril de 2014

Celeste apressadinha

As três chegaram juntas à entrevista de emprego, agendada rigorosamente para as 14 horas. Pontualmente a recepcionista solicitou que assinassem um Livro de Registro de Presença, onde constava seus nomes, já impressos em etiqueta adesiva.

Checou calmamente os documentos solicitados, ficou com as fotocópias devidamente rubricadas, devolveu os originais conferidos, em envelope impresso da Companhia, e abriu o acesso para um extenso corredor. Apontou para a terceira porta da esquerda, onde deveriam aguardar novas instruções.

Celeste empurrou as duas, apressou o passo, chegou na frente da porta, rodou a maçaneta e... estava trancada. Tentou abrir novamente, bateu na porta, aguardou ansiosa, bateu de novo. Que coisa! Voltou imediatamente à recepção, que estava vazia. Quando retornou ao corredor, também estava vazio. Correu em direção à porta indicada - trancada. 

Desesperou-se. Bateu, chamou, bateu mais forte, chamou mais alto, tornou a bater com maior intensidade, gritou para abrirem. A terceira porta da direita abriu, voltou-se em desespero. Surgiu uma moça em elegante uniforme azul marinho que indagou-lhe com os olhos. Explicou os motivos aos gritos. A moça balançou a cabeça de forma negativa e tornou a fechar a porta. Celeste correu em sua direção - já estava trancada. Começou a chorar.

Tentou a segunda porta - trancada. Tentou a primeira porta da direita - aberta. Com a força que impulsionou a maçaneta, perdeu o equilíbrio, torceu o pé, quebrou o salto de dez centímetro e caiu de joelhos na sala. Ao levantar-se, bateu violentamente com a cabeça na quina de uma mesa, desmanchando o penteado, e tornou a ir de encontro ao piso. Arrastou-se contorcendo em dor no tornozelo pela torção, nos joelhos pela queda e na cabeça pelo impacto com a mesa, até sentar-se no chão, encostada na parede. Ainda sem fôlego, juntou os documentos espalhados, tirou os sapatos e colocou-os na bolsa.

Percebeu que rasgara a meia, muito cara, que comprara especialmente para a ocasião. Olhou, não viu ninguém, e começou a se desfazer da peça. Quando estava com ela já no meio das coxas, viu os seus óculos cuja armação importada custara seu acerto do emprego anterior, caído sob a mesa. Curvou-se para apanhá-lo e neste intervalo, a porta se abriu e entraram dois cavalheiros finamente trajados. 

Celeste levantou-se descabelada, olhou para um lado, olhou para o outro... gente, eu podia jurar que o banheiro feminino era aqui, e saiu correndo, desesperada, mancando, meia-calça semi abaixada com a parte de trás da saia presa por dentro, descalça e com a visão turva. Sumiu para nunca mais voltar.

É isto aí!

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!