domingo, 22 de junho de 2014

Doutrina das Plêiades Helênicas

Epitácio Junqueira era um chato. Certa feita teve uma experiência de contato imediato de quarto grau com o viajante inter-estelar Hamnym Kan, enquanto recebia um passe no terreiro de Mãe Aparecida. Abduzido, chegou à imensa nave, e lá recebeu a incumbência de criar um Templo de Cura, Libertação e Salvação na Terra.

Ao retornar, já haviam passados três dias desde seu desaparecimento, que ninguém percebeu na pensão e sequer fora notada a ausência no Departamento de Recursos Hídricos, onde ocupava o cargo de 3º Auxiliar da 2ª Secretaria do Gabinete Interino do Assessor Especial para Assuntos Regionais do Ministério das Cidades.

Em sua escrivaninha, cercado de papeis inúteis e arquivos mortos, transcreveu para o mundo a Doutrina das Plêiades Helênicas. Passadas algumas semanas sem conseguir avançar no Estatuto e no Organograma do Templo, eis que materializa-se em forma humana o Mestre Hamnym Kan, que passou então a promover todas as condições para que Epitácio construísse o Templo.

Segundo Kan, através das milenares gerações do saber, foram permitidas pelas fendas abertas pela Grande Consciência das Constelações, que os ensinamentos desta vertente espiritual promovesse uma nova concepção de mundo, onde os clãs nobres seriam responsáveis por nortear e conceder as determinações e doutrinas arcaicas simples, porém absolutas e transformadoras, que doravante seriam denominadas e conhecidas como “Oráculos do Amor”.

A salvação baseia-se na família, frisava Kan, e por família entendemos quaisquer aglomerações humanas por interesses comuns. São os Oráculos do Amor que nos enredam inconscientemente na repetição do destino de outros membros do grupo familiar, ensinou.

As ordens do amor são forças dinâmicas e articuladas que atuam nas famílias e necessitam dos relacionamentos íntimos, passionais ou espirituais para se manterem vivas. Percebendo a desordem dessas forças dinâmicas sob a forma de artífices transcendentais, através do Oráculo do Amor concederemos à ela (à desordem) um fluxo harmonioso como uma sensação de estar bem no mundo.

Desta forma, concedendo a harmonia aos quatro Clãs da Nobreza Cósmica, libertaremos seu mundo da escuridão do saber divino. Saiba, Epitácio, que existem quatro Clãs da Nobreza Cósmica na Terra, que são assim designadas: Clã das Plêiades Sarônicas; Clã das Plêiades Espórades Setentrionais; Clã das  Plêiades Jónicas e o Clã das Plêiades do Dodecaneso.

E eu, Kan, conheço cada uma delas e assim que construir o templo as enviarei para que se cumpram as profecias do destino da vida adâmica. Para iniciar seus trabalhos espiralizados em éter cósmico, será necessário um pequeno investimento inicial da ordem de alguns milhares de reais e tudo será ressarcido.

Assim, Epitácio endividou-se além do limite de suas posses construindo o Templo e recrutou as quatro cunhãs-poranga indicadas pessoalmente por Kan e que seriam as Fráteres da irmandade geradora da nova etnia salvítica.  

As novas Evas eram - Fráter Lúcia, do Clã das Plêiades Sarônicas; Frater Júlia, do Clã das Plêiades Espórades; Fráter Helena, do Clã das Plêiades Jónicas e a Frater Morena, do Clã das Plêiades do Dodecaneso.

E foi desta forma que detentores de grandes fortunas de origem desconhecida e não sabida passaram ao credo contínuo do Templo das Pleiades Helênicas. Na noite do grande culto, eis que foram iniciadas de forma didática as práticas da doutrina do Oráculo do Amor.

Fráter Lúcia, do Clã das Plêiades Sarônicas; Frater Júlia, do Clã das Plêiades Espórades foram ao púlpito e pregaram suas experiências místicas:

Fraternos e Fráteres, agradecemos aqui a noite da revelação que experimentamos com os noviços do Templo, que mostraram com muita consistência o verdadeiro caminho que uma Fráter necessita cruzar para alcançar o Ponto Andrômeda, único e exclusivo em nosso corpo material, como memória filogênica do Patriarca Hamnam Kan. Nós agradecemos ao nosso marido e pastor neste plano terrestre, Epitácio Junqueira por estarmos orgulhosas desta dádiva celestial.

Aplausos... gritos... aplausos... assovios... gritos...

O locutor, em lágrimas, fala - Vamos continuar nossos trabalhos espiralizados em éter cósmico ouvindo a Fráter Helena, do Clã das Plêiades Jónicas e a Frater Morena, do Clã das Plêiades do Dodecaneso.

Fraternos e Fráteres, repassamos aqui nesta noite a grande experiência da revolução que engrandeceu-nos, com os noviços do Templo, que penetraram com muita apetência o sentido da lascívia que uma Fráter necessita saber para compreender o Ponto Órion, introduzindo em nosso corpo material, a memória filogênica do Patriarca Hamnam Kan. Nós agradecemos e muito ao nosso marido telúrico Epitácio Junqueira, que permitiu termos vivenciado esta dádiva cósmica.

Aplausos... gritos... aplausos... assovios... gritos...

Epitácio viria a falecer pouco tempo depois, falido, triste e sobretudo virgem de relações carnais. O Templo manteve a ostentação do Oráculo do Amor e a vida seguiu seu destino com casos e acasos...

É isto aí!


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