segunda-feira, 31 de março de 2014

O segredo de Arlindo Orlando Couves


Arlindo Orlando Couves era um homem deprimido. Nada dava certo em sua vida. Não conseguia manter um diálogo com o pai desde a adolescência, que o detestava e evitava; sua mãe o ignorava e também não conseguia manter um diálogo com os filhos que o desprezavam. Já a sua esposa, a amada e adorada Constância Verdura era mãe de seus filhos, fria e santa. 

O fracasso era a cara do Arlindo. Tudo que sonhava, naufragava no mundo real. Seu patrão o humilhava na frente de todos, seus amigos tinham pena dele, vivia devendo ao banco e estava sempre sozinho. Resolveu buscar uma forma de encontrar com Deus para uma cura espiritual dos seus problemas.

Foi em várias igrejas cristãs, templos orientais, centros espirituais, conversou com padres, pastores, mestres e guias; foi em tendas de milagres, esteve em terreiros, casa de santos, esteve com pessoas sérias e com vigaristas, foi benzido, ungido e revestido de armaduras espirituais dezenas de vezes, ajoelhou, deitou, foi ao monte, acendeu velas, entrou no mar, no rio, na piscina, subiu e desceu dezenas de montes, e nada acontecia.

Bebeu dezenas de águas bentas, besuntou de óleos sagrados, passou perfumes de caboclo, tomou vinhos da purificação, vestiu mantos da glória, ergueu espadas, carregou ramos de arruda e confessou em público coisas confessáveis, ouviu videntes, foi em tarólogas, ciganos, etc.

Um dia, e este dia sempre chega, Arlindo Couves estava em casa, solitário, como sempre. O telefone tocou e deu-se o seguinte diálogo:

- Alô?
- Sr. Arlindo Orlando Couves?
- Sim, quem fala?
- Sr. Arlindo, meu nome é Ângela, sou do Departamento Celestial de Assuntos Pendentes, Divisão de Casos Perdidos.
- Hem? De onde? Como é que é?
- Sr. Arlindo, para sua segurança esta ligação será gravada. Precisamos confirmar alguns dados que certificarão este contato.
- Nossa Senhora!!!
- É outro departamento, Senhor, e não consigo uma transferência daqui, teria que passar pela anuência da Diretoria dos Arcanjos.
- Você é louca! Estou tendo alucinação auditiva...
- Veja bem, Sr. Arlindo, mantenha-se calmo, está bem? Calmo, muito calmo. Agora o senhor está calmo!
- Engraçado, estou me sentindo calmo. Menina, você é boa nisto.
- Sr. Arlindo, apenas confirme alguns dados para que possamos prosseguir, ok?
- Sim, pode falar agora.
- Seu pai é Armando Orlando Xaveco e sua mãe Maria Berta?
- Deve haver um engano aí, Armando é meu padrinho; meu pai é o Arlindo Irlando das Couves.
- Sr. Arlindo, nossos registros são infalíveis. Somos a Verdade. Talvez o senhor esteja sendo enganado no seio da família. Mas vamos continuar. O sr. tem apenas uma filha com a sra. Constância Verdura, que se chama Constância Berta, confere?
- Mas você está louca mesmo, tenho mais dois filhos com Constância, Júlyo Orlando e Jayme Orlando. 
- Desculpe Sr. Arlindo, mas Júlyo Orlando e Jayme Orlando são, de fato,  filhos de Dona Constância, sendo o pai o sr. Armando Orlando Xaveco Júnior.
- Mas como você pode afirmar uma coisa destas? De onde sai isto tudo?
- Sr. Arlindo, os Anjos não mentem jamais. Além disto o senhor fez várias incursões nos nossos arquivos celestiais para falar conosco. Estamos apenas fazendo uma entrevista prévia de agendamento com Deus. Não é do nosso interesse promover levantamento de polêmicas contra o senhor.
- Bobagem, como você pode ter tanta informação assim?
- Bem, tudo começou coma chegada do Jobs, o Steve Jobs - sabe como é, chegou e foi logo para a diretoria, arranjaram uma sala para ele, e aí foi criando estes arquivos e as soluções para resolvermos pendências.
- Ah, é? E como você consegue falar comigo em português?
- Ora, sr. Arlindo, o sr. Jobs criou um mecanismo de tradução em tempo real que permite ao departamento falar com várias galáxias e milhares de planetas sem interferência de terceiros.
- Bem, estas relações da família eu não sabia, mas tenho um segredo que só eu sei, e se você revelar, eu acreditarei em você.
- Sr. Arlindo, o seu livro da vida está integralmente aberto na minha tela, sem cortes, sem edições e sem censura. Não há nada que seja segredo seu, que eu não saiba. Mas o sr. quer mesmo que eu fale?
- Sim, claro, prove que você é do tal departamento celestial aí.
- Bem, sr. Arlindo, segundo nossos registros, quando o sr. tinha dezoito anos, juntou dinheiro trabalhando honestamente, com o objetivo de comprar uma boneca de 1,50 m de altura, articulável, idêntica à sua prima, e esta boneca, de nome Jackelyne Cristina, vem sendo sua companheira de relacionamento pessoal desde então.
- Nããããããõoooo!!!! Nããããããõoooo!!!! Você não podia saber disto.... nãããããããooo!!!  

É isto aí!

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