segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A verdade, a pós-verdade e as fake news

Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei
Título Original: Verdade líquida
Autor do texto: Dr Kennedy Diógenes
Fonte do texto: Portal HD 


“Vivemos o fim do futuro”, segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor do conceito da modernidade líquida, referindo-se a uma nova época em que as relações humanas são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.

Para Bauman, a virtualização da vida, ou seja, a tendência de se imitar, no mundo virtual, a vida real, e a perda das referências políticas, culturais e morais geraram uma sociedade mais acomodada e ignorante em relação ao futuro, ao contrário das sociedades anteriores, que agiram e viveram voltadas para ele.

Neste processo, não se perdeu somente o porvir, mas, também, a verdade, vítima da desconstrução da modernidade sólida (onde a busca pelo real era um compromisso sério), fazendo surgir a pós-verdade, termo utilizado para situações em que emoções e crenças se sobrepõem aos fatos reais na formação da opinião pública.

Quem não se lembra da célebre frase de Goebbels, ministro da propaganda nazista, quando dizia que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”?

Pois é. A sociedade líquida aprisionou a verdade e cavou um fosso de narrativas para justificar o injustificável, negar o que foi flagrado ou flagrar o que não existiu, sempre a serviço de determinado indivíduo ou grupo na manipulação dos demais.

Embora, hoje, todos os fatos possam ser checados, a pós-verdade prolifera com base em dois pilares: repetição da mentira, como Goebbels afirmava; e desqualificação do contrário, desestabilizando as referências acerca daquele tema.

Dessa forma, a pós-verdade ou fake news é rapidamente difundida, encontrando campo fértil na sociedade líquida, pois há sempre um público que reverbera e se identifica com qualquer tese, por mais absurda que seja. É a partir disso que Leandro Karnal definiu a pós-verdade como uma “seleção afetiva de identidade”.

Utilizando-se deste expediente, Donald Trump, nas eleições Americanas de 2016, difundiu várias fake news contra seus adversários, tal qual a ideia de que Barack Obama não era um americano nato, tendo sido, inclusive, objeto de estudo de Rafael Goldzweig, mestre em Políticas Públicas pela Hertie School of Governance, em Berlim, Alemanha.

Nesta pesquisa, Goldzweig concluiu que as fake news, principalmente aquelas que desconstroem reputações, interferem diretamente na vontade do eleitor, sendo uma das maiores causas de influência nas eleições Americanas, Francesas e Alemãs, além da escolha inglesa pelo Brexit, revelando que pós-verdade e democracia não combinam.

Ocorre que a pós-verdade não se restringe somente à política. A manipulação dos fatos encontra espaço nas relações privadas, atacando à honra e à dignidade das pessoas e de grupos inteiros até em questões mais cotidianas, como o fim de um relacionamento, a concorrência do bairro ou para desafiar a ciência.

Para os terraplanistas, por exemplo, o nosso planeta é um prato chato e com bordas. Não interessa se a Terra é redonda, apesar de fotos e filmes do espaço que revelam o seu formato oval, mas, sim, as crenças e ideologias que apoiam esta tese.

O mesmo ocorre com os negacionistas das vacinas, que levantam suspeitas infundadas acerca de sua eficácia, não importando o fato de que as mortes por covid-19 tenham despencado depois da vacinação em massa, comprovando que a ciência, mais uma vez, salvou a humanidade.

O que importa é comprarmos a conclusão pronta sem passarmos pela investigação dos fatos, como um self-service de notícias fantásticas. Em um piscar de olhos, a vítima se transforma em algoz; o algoz, em vítima, e a agressão, em defesa, conforme a “qualidade” da narrativa e sua repetição, disseminando-se em uma velocidade avassaladora.

Quando menos esperamos, o estrago já está feito: vontades viciadas, empresas fechadas, pessoas feridas e reputações mortas no charco da hipocrisia social… E o pior é que tudo isso ocorre com a nossa permissão silenciosa, com a nossa omissão na defesa da verdade.

É assim que a pós-verdade tem conduzido nossa sociedade atual, guiando-nos em bando, não como a lanterna de Diógenes, em busca da honestidade, mas como o canto da sereia, que atrai o homem para uma armadilha mortal.

Como nas fábulas de Hans Andersen, colocaram o rei para desfilar nu e nós vamos deixando muitos likes. O rei está nu, vivendo em uma sociedade líquida e repleta de pós-verdade. De fato, qual futuro teremos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!